Título: Para Dilma, não cabe ao Executivo se pronunciar
Autor: Lisandra Paraguassú
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/09/2005, Nacional, p. A5

A ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, disse ontem que o governo "não concorda com a presunção de culpabilidade" em relação às denúncias contra o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE). "O governo considera que num país onde reinam a República e a democracia, a presunção é de inocência", afirmou, ao desembarcar de manhã no aeroporto de Diamantina (MG), para receber a Medalha Presidente Juscelino Kubitschek. Dilma, porém, garantiu que o governo é a favor da apuração de todas as responsabilidades. Ela demonstrou irritação com as perguntas dos jornalistas e recorreu ao princípio da independência dos três Poderes. "Não cabe a ninguém do Executivo se pronunciar a respeito do que se passa no Legislativo. Estamos certos de que o Legislativo tem todas as condições de resolver todos os problemas que dizem respeito àquela Casa", destacou ela, que chegou a citar o filósofo francês Montesquieu, célebre pela teoria da separação dos poderes.

Questionada sobre o fato de que a atual crise política teve início exatamente com denúncias de que o Executivo interfere no Legislativo, no caso do suposto mensalão a parlamentares, Dilma comentou: "Se for verdade, caracteriza prática indevida. Mas, em nome disso, não se pode justificar outra prática indevida futura. Ou seja, se houver algo que se caracteriza por isso - e há que se provar -, não podemos instituir a prática de interferência como a correta."

O argumento de não interferência no Legislativo foi repetido pelo ministro do Controle e Transparência, Waldir Pires. "Como é que o governo vai dar palpite nas deliberações do Parlamento? Essa atitude seria um pouco leviana e irresponsável", afirmou ele, que também recebeu a medalha JK.

Em Curitiba, o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, reconheceu ser muito difícil o governo querer que o Congresso ignore a crise e passe a votar os projetos que são de seu interesse. "O governo não tem o que fazer a não ser esclarecer o que for indagado e assistir." Ele previu "um período de grande turbulência". "É uma situação dramática porque não é um parlamentar qualquer, mas o presidente da Câmara. A denúncia tende a ser tratada com muita paixão e não é simples resolver isso."