Título: Planalto evita dar apoio incondicional a Severino
Autor: Lisandra Paraguassú
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/09/2005, Nacional, p. A5

O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva não vai apoiar de forma incondicional o presidente da Câmara, deputado Severino Cavalcanti, acusado de cobrar propina para renovar o contrato de funcionamento de um dos restaurantes do Congresso. Lula teria dito a mais de um interlocutor que esta é uma questão do Congresso e por lá deve ser revolvida. Na prática, Lula não quer ajudar nem aumentar a pressão contra o presidente da Câmara. O presidente e alguns de seus auxiliares acham que Severino se saiu melhor que o esperado na entrevista concedida no domingo, quando tentou se explicar. Estes mesmos auxiliares não ousam dizer, no entanto, que a entrevista foi boa. Tem que isso possa ser entendido como declaração de apoio.

Os assessores palacianos entendem que é preciso aguardar o andamento da apuração do caso. "Não há apoio incondicional quando se fala de um processo de investigação", resumiu o ministro das Relações Institucionais, Jacques Wagner, ao ser questionado se o governo apoiaria Severino como ele tinha afirmado no dia anterior.

"Seria um erro brutal puxar o presidente para uma polêmica dessa", declarou o deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP), líder do governo na Câmara, ao sair de uma reunião com Lula na Granja do Torto. "O presidente Lula não tem qualquer intenção presente ou futura de interferir nesta questão, que é uma questão do Congresso."

Segundo Chinaglia "não existe uma ação de governo em relação ao presidente da Câmara, assim como não existe em relação a outros parlamentares".

Lula assistiu à entrevista no Torto e, depois, almoçou com o ministro das Relações Institucionais, Jaques Wagner. Ontem, antes de embarcar para a Guatemala, ele se reuniu com Chinaglia e também conversou com o vice-presidente José Alencar. Eles estiveram juntos durante quase uma hora, na Base Aérea de Brasília.

O governo toma cuidado para evitar declarações que possam sinalizar a defesa incondicional de Severino. Tanto Chinaglia quanto Jaques Wagner defenderam o fim rápido das investigações para que o Congresso volte a funcionar.

Wagner desmentiu o boato de que pediria ao PSB e ao PT para que não assinem a representação contra Severino. "Não vou pedir. A decisão cabe a cada presidente de partido."