Título: Delcídio defende acordo para sair do 'imbróglio'
Autor: Denise Madueño
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/09/2005, Nacional, p. A6

O presidente da CPI dos Correios, senador Delcídio Amaral (PT-MS), defendeu ontem a construção de um acordo entre oposição e governistas sobre o eventual afastamento do presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE). Delcídio admite que o impasse poderá impedir a sessão do Congresso que irá votar o processo de cassação do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), marcada para amanhã, e prejudicar os trabalhos da comissão. Para o senador, que se disse preocupado com o desgaste do Congresso, a oposição tem assumido uma "postura muito dura", inclusive com ameaças de instalação de processo contra Severino no Conselho de Ética. "Essa preocupação da oposição é a própria preocupação da situação. Nós precisamos conversar para ver como saímos desse imbróglio."

O deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP) também defendeu um entendimento amplo e suprapartidário, para convencer Severino a deixar o cargo, já que o regimento da Câmara não prevê afastamento. "A partir do momento em que nós buscamos esse diálogo, esse entendimento, nós podemos tentar dialogar sim com o presidente Severino para ver o equacionamento", afirmou. "A oposição e a situação têm que sentar, dialogar e verificar o melhor caminho. Perceber que não é hora de disputas, que a instituição está em jogo, que a legislatura está em jogo."

Embora concordem com uma solução negociada, parlamentares oposicionistas não aceitam a permanência de Severino. "Ele precisa se afastar. Não há tranqüilidade política, legitimidade para ele continuar presidindo a Casa, independente da comprovação desta ou daquela denúncia", disse o deputado Eduardo Paes (PSDB-RJ). Ele salientou, no entanto, que os processos de cassação no Congresso não podem ser paralisados. "É uma coisa que nós temos que refletir com muita calma para que esse processo não seja mais lento do que já é."

Apesar de admitir que a situação do presidente da Câmara "está se complicando", Delcídio recomendou cautela. "É preciso ter algum tipo de prova, para não ficar também uma palavra contra a outra", disse ele, que defende uma "perícia independente" para examinar o documento apresentado para provar que Severino autorizou indevidamente a prorrogação do contrato do restaurante.

MACARTISMO

O senador tucano Tasso Jereissati (CE) também foi cauteloso e disse que as denúncias precisam ser confirmadas. Ele criticou o que chamou de "show de denuncismo" e chegou a comparar o atual momento ao "Macartismo" - movimento conservador anticomunista desencadeado nos anos 50, nos Estados Unidos, pelo senador Joseph McCarthy. "Acho que nós estamos vivendo um momento em que a gente começa a passar um pouco de um ponto de equilíbrio. Está na hora de punir e acabar com o show."

Os parlamentares participaram em Diamantina de entrega da medalha Presidente Juscelino Kubitschek, oferecida pelo governo estadual.