Título: Irmão de Genoino tem de se explicar à Assembléia
Autor: Carlos Marchi, Patricia Villalba e Carmem Pompeu
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/09/2005, Nacional, p. A8

O deputado estadual José Nobre Guimarães (PT), irmão de José Genoino, tem até o fim desta semana para se explicar, por escrito, sobre duas denúncias contra ele na Assembléia Legislativa do Ceará. A primeira é com relação ao dinheiro apreendido no dia 8 de julho, no Aeroporto de Congonhas (SP), com o seu então assessor José Adalberto Vieira da Silva - ele levava R$ 209 mil numa bolsa e US$ 100 mil na cueca. O episódio levou Genoino a renunciar à presidência do PT. A outra explicação diz respeito à lista do mensalão. O nome de Nobre Guimarães consta como um dos beneficiados pelo esquema operado pelo empresário Marcos Valério. Ele admite ter recebido R$ 250 mil, em abril de 2003, mas disse que foi via tesouraria nacional do PT e que a quantia foi utilizada para quitar dívidas de campanha de José Airton Cirilo, candidato petista ao governo cearense em 2002. Os valores só foram contabilizados na semana passada, quando o Diretório Estadual do PT entregou a retificação das contas da campanha à Justiça Eleitoral.

Ele disse estar "tranqüilo" e pretende entregar hoje sua defesa. Com base nas suas explicações, o ouvidor da Assembléia, Antônio Granja (PSB), deverá pedir, num prazo de até 5 sessões, a abertura de processo ou o arquivamento dos casos.

Já as investigações no Ministério Público Federal devem prosseguir até o fim de outubro, segundo o procurador Alexandre Meireles. Ele aguarda os depoimentos feitos através de carta precatória em São Paulo do empresário José Petronilho de Freitas, sócio da Cavan, e do advogado Paulo Guilherme.

Segundo Meireles, há indícios de que o dinheiro apreendido com Adalberto seja propina resultante de um contrato do BNB com o consórcio Sistema de Transmissão do Nordeste (STN), do qual a Cavan faz parte. "Mas ainda vamos fazer novas diligências." Ele aguarda o colega Márcio Torres retornar das férias para ouvir novamente Adalberto e o ex-assessor da presidência do BNB, o advogado Kennedy Moura Ramos. Kennedy é suspeito de ter facilitado um empréstimo de R$ 300 milhões da STN junto ao BNB. Adalberto, Kennedy e Guimarães eram velhos amigos. Romperam relações depois do escândalo. Adalberto, que se desfiliou do PT, foi exonerado por Guimarães e está incomunicável no interior.

Kennedy pediu demissão do BNB. O banco, no entanto, instalou uma sindicância para apurar o caso. O relatório deverá ficar pronto nos próximos dias. O PT cearense também abriu sindicância. O relatório fica pronto nesta semana e deve falar em traição, não em punição.