Título: Melhora clima na ONU para aprovar as reformas
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Fonte: O Estado de São Paulo, 13/09/2005, Nacional, p. A10

A proximidade da chegada de 159 chefes-de-Estado e de governo - entre eles, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva - a Nova York para a reunião de cúpula de três dias que vai debater o futuro da ONU emprestou certo otimismo para a aprovação dos projetos da reforma administrativa da entidade mundial e da Comissão de Direitos Humanos. Ontem, o presidente da Assembléia Geral da ONU, Jean Ping, disse, com ar otimista: "Continuamos negociando". O ministro brasileiro das Relações Exteriores, Celso Amorim, disse à imprensa internacional que se tornou impossível não fazer a reforma do Conselho de Segurança da ONU. Seguindo o exemplo de seu chefe, que sempre usa jargão futebolístico para explicar eventos políticos, Amorim disse que se a reforma não acontecer, "será como uma copa do mundo em que só países europeus têm direito de participar das finais".

Brasil, Alemanha, Japão e Índia (o chamado G-4) apresentaram um projeto que amplia os atuais 15 assentos do Conselho de Segurança para 25, subindo dos atuais 5 para 11 (os quatro postulantes e dois países africanos) os assentos permanentes. Depois de perceber dificuldades para aprovação do projeto, o Itamaraty começou a trazer para visitas oficiais ao Brasil chefes-de-Estado africanos. O último, que esteve no Brasil na semana passada, foi o presidente da Nigéria, Olusegun Obasanjo, presidente da União Africana.

O êxito da reunião de cúpula parecia ameaçado ontem, quando o governo americano anunciou que as negociações sobre os dois pontos-chave haviam fracassado. Mas segundo diplomatas da ONU, a proximidade da chegada dos mandatários criou um clima favorável ao avanço dos documentos. A comissão de negociação trabalhava ontem sobre uma versão que ainda tinha muitas partes do texto entre parênteses, atestando os pontos de discórdia.

Segundo fontes da ONU, os países que manifestaram as mais importantes objeções ao texto de reforma do Conselho foram Egito, China, Rússia e Paquistão. Os três últimos, por questões geopolíticas regionais, são os maiores adversários do projeto do G-4, que elegeria rivais históricos desses países para assentos permanentes no Conselho de Segurança da ONU. Mark Malloch Brown, chefe de gabinete do secretário-geral Kofi Annan, afirmou que a comissão de negociação tentava concluir ontem os documentos que serão apresentados aos presidentes.