Título: Dívida de credor privado deve ser paga com deságio
Autor: Alberto Komatsu
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/09/2005, Economia & Negócios, p. B1

Apesar de o plano de recuperação judicial da Varig, apresentado ontem à Justiça, não falar explicitamente em deságio para as dívidas de credores privados, na prática é isso que oferece. "O credor está com uma espada no pescoço: se endurecer, não recebe nada. Pelo plano, ele tem a possibilidade de receber alguma coisa, ainda que muito pouco", avalia Marcelo Ribeiro, analista de aviação da consultoria Pentágono. Pelo plano, a Varig vai reservar R$ 100 milhões para pagar as dívidas de cerca de 2 mil credores privados, excluindo o Fundo de Pensão Aerus, durante dois anos. Depois desse prazo, os cerca de cem credores - pelos cálculos da empresa, eles ainda deverão receber R$ 1,9 bilhão - terão duas opções.

A primeira opção é trocar a dívida por um título podre da Varig velha, cujo único ativo serão as ações contra a União e Estados por perdas provocadas por planos econômicos passados e também por uma cobrança indevida de ICMS. Quem optar por essa modalidade só começará a receber seus créditos depois de 20 anos. A segunda é trocar a dívida por um título da nova Varig, cujo respectivo preço será fixado em leilão judicial.

"Ou o credor especula com a Justiça ou troca a dívida por uma companhia saudável, com um tremendo deságio", acredita Ribeiro. Na sua avaliação, a tendência dos credores é optar por uma participação na Nova Varig. "O problema é que, quanto maior for a demanda de credores pelo leilão, maior o poder de barganha da Varig para reduzir o valor dos títulos."

Ribeiro é otimista em relação ao futuro operacional da companhia. "Acredito que há espaço para uma nova Varig caminhar bem. O mercado de aviação brasileiro continua muito aquecido e há liquidez no mercado de capitais para financiar a nova empresa."

Já o sócio e consultor da Bain & Company, André Castellini, acredita que, mesmo com deságio, a Varig continuará com alto endividamento. "Ela ainda terá uma defasagem financeira muito grande em relação à concorrência."

Diferentemente das dívidas com empresas de leasing e a BR Distribuidora, entre outros credores privados, a dívida com o Aerus não terá deságio. Maior credor privado, com quase R$ 2 bilhões, o Aerus continuará recebendo as prestações em condições negociadas há dois anos. Haverá apenas uma carência de um ano.

Castellini também desconfia das projeções de crescimento apontadas no plano. Para chegar a uma margem de lucro condizente com a média do setor, de 12%, a Varig projeta operar com taxa de ocupação superior a 75%, chegando a 79% em 2010. "O setor vai indo bem, mas no ano que vem a Gol trará muitos aviões e há risco de superoferta. Com base em que premissas a empresa projeta essa participação de 79%?"