Título: Plano da Varig prevê corte de 1,5 mil
Autor: Alberto Komatsu
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/09/2005, Economia & Negócios, p. B1

A Varig apresentou ontem à Justiça do Rio o seu plano de recuperação, que prevê a criação de uma nova empresa, sem passivos, para atrair potenciais investidores. A Varig "velha" ficará com a atual controladora, a Fundação Ruben Berta (FRB), que herdará em torno de R$ 4,5 bilhões de dívidas previdenciárias e tributárias, mas também alguns ativos e as ações contra o governo por perdas tarifárias que podem totalizar até R$ 6 bilhões. Serão demitidos em torno de 1,5 mil funcionários até o fim do ano, ou 13% dos 12 mil empregados das três companhias em recuperação (Varig, Rio Sul e Nordeste). O projeto ainda terá de ser aprovado pelos credores da companhia e pela FRB, que terá sua participação de 87% diluída. A "nova" e a "velha" Varig vão operar por meio de um consórcio. No futuro, a FRB poderá ter participação da Varig saneada, após o reagrupamento das duas estruturas.

"O que estamos fazendo hoje é dar partida ao processo de discussão com os credores e outros interessados", diz o presidente do Conselho de Administração da Varig, David Zylbersztajn.

Importante passo para a aprovação da reestruturação da Varig será dado dia 24, quando seus credores irão eleger três representantes e três suplentes para cada tipo de credor (trabalhistas, com garantias reais e quirografários) para acompanhar e discutir o plano de recuperação.

Após a criação do comitê de credores, o projeto terá de ser aprovado até meados de novembro. Caso não haja tempo hábil para a reestruturação, elaborada pela Varig com a assessoria do banco suíço UBS, da consultoria Lufthansa e da Fundação Getúlio Vargas, a Justiça do Rio já informou que pode haver prorrogação, por causa da complexidade do problema.

"Foi um trabalho árduo e o desafio é que 60 dias é um prazo curto (para elaborar o plano de recuperação)", diz o presidente-executivo da Varig, Omar Carneiro da Cunha.

A divisão de ativos entre a "nova" e a "velha" Varig ainda vai depender das negociações e do perfil dos investidores interessados na reestruturação da companhia, além da aprovação dos credores. A nova companhia poderá ser adquirida por meio de leilão judicial.

Segundo Cunha, caso o plano seja aceito e os recursos cheguem, a Varig pode alcançar o break even (ponto de equilíbrio entre receitas e despesas) ainda este ano. Pelas contas da empresa, seriam necessários, no mínimo, US$ 135 milhões, dos quais US$ 60 milhões só de gastos com manutenção.

O presidente do Tribunal de Justiça do Rio, desembargador Sergio Cavalieri Filho, preparou uma cerimônia para receber pessoalmente o plano. Ele atribuiu a situação da Varig ao descaso dos demais poderes da República. "Se a Varig está nesta situação foi porque não recebeu atenção devida dos demais poderes. Se lá faltou a atenção, do Judiciário não vai faltar", disse Cavalieri, que classificou a empresa aérea de "patrimônio nacional".

A Varig também aguarda a aprovação da venda da VarigLog ao fundo americano de investimentos Matlin Patterson, negociação que pode chegar a US$ 103 milhões. A decisão sairá de uma assembléia, dia 20, realizada pela instância de maior poder decisório na companhia, o Colégio Deliberante. Segundo fontes do setor, a apresentação oficial do plano, que foi finalizado momentos antes de ser entregue à Justiça, não contou com a presença dos curadores da FRB por indicação dos advogados, para "não haver nenhuma manifestação pública a favor do plano".

As dívidas trabalhistas serão pagas como vêm sendo atualmente. Só com o FGTS serão R$ 76 milhões por meio de convênio com a Caixa Econômica Federal. Há outros R$ 32,5 milhões de um plano de incentivo à aposentadoria mais R$ 59,6 milhões de outros débitos trabalhistas.

As dívidas de credores com garantias reais, basicamente R$ 1,8 bilhão do Fundo de Pensão Aerus, estão sendo renegociadas e já foi estudada carência de 1 ano. Para os sem garantia real, como os fornecedores de equipamentos e serviços, por exemplo, a companhia reservou R$ 100 milhões do fluxo de caixa e planeja pagar em até 24 vezes.

A reestruturação operacional da Varig já está em curso e leva em conta a otimização da frota. Hoje, a empresa trabalha com 9 famílias e configurações diferentes de aviões e quer reduzir para 3 apenas. O Aeroporto Internacional de Guarulhos será o principal centro de distribuição de vôos (hub, no jargão do setor). A redução de rotas não rentáveis e ampliação da operação internacional também estão nos planos, entre outras medidas. Segundo Cunha, foram identificadas 95 medidas necessárias para a reestruturação. Com as mudanças, a empresa pretende alcançar margem operacional de 12% até 2010.