Título: BCs do mundo sugerem ao Brasil acordo pela independência do BC
Autor: Jamil Chade
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/09/2005, Economia & Negócios, p. B3

Os principais bancos centrais do mundo sugerem ao Brasil um acordo entre os partidos políticos para conceder independência ao Banco Central como forma de garantir que a crise política não contamine a economia e seus resultados considerados satisfatórios pelo mercado financeiro internacional. A independência seria uma forma de garantir que não haja crises no o período eleitoral em 2006. Ontem, na reunião do Banco de Compensações Internacionais (BIS) na Basiléia, o presidente do BC, Henrique Meirelles, ouviu essa recomendação de banqueiros como o presidente do Banco Central Europeu, Jean-Claude Trichet, que também atua como porta-voz do G-10, grupo dos dez maiores bancos centrais do mundo.

No caso do Brasil, as dúvidas sobre a questão da política econômica adicionam certos risco nos prêmios de risco das taxas de juros internas e externas. Na avaliação dos BCs, portanto, a independência da Autoridade Monetária brasileira consolidaria os ganhos obtidos pela economia brasileira nos últimos anos. Alguns dos xerifes ainda apontam que essa independência seria uma "sinalização" importante do Brasil para os mercados internacionais.

Segundo fontes que estiveram na reunião, Meirelles teria respondido que, neste momento, o governo não tem margem para propor a mundança ao Congresso. Os BCs alegaram que a proposta de independência não precisaria vir do governo, mas sim como um acordo entre diversos partidos. Esse modelo já teria sido usa do em outros países.

"Temos todos a opinião de que a independência deve ser uma das principais características dos bancos centrais e confiamos que não está sendo somente cristalizado como um princípio global, como também está tendo documentada por pesquisas econômicas", disse Trichet. "Bancos centrais administram políticas monetárias e são guardiães. A independência significa que temos de ser bons guardiães. Não podemos estar na arena política."

Trichet ainda elogiou o Brasil, afirmando que o dinamismo da economia foi bastante impressionante, totalmente independente da situação política. "O dinamismo doméstico assim como as contas externas são testemunhas de que a economia brasileira também está se transformando em um ritmo rápido."

CICLO DE FORTALECIMENTO

Meirelles afirmou que o Brasil entrou em "um ciclo de fortalecimento da economia" e que "a crise política é um bom teste da política econômica adotada pelo País". Ele ainda se defendeu em relação ao descobrimento recente de escândalos envolvendo envios de remessas de dinheiro por vários políticos ao exterior. "O BC não pode atuar como uma polícia." Segundo Meirelles, "o embate entre a crise política e a economia mostrou que a economia está forte, menos vulnerável e ancorada em fundamentos sólidos". E completou: "Outros BCs concordam com essa avaliação e que temos de continuar com essa política."

Às vésperas da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), Meirelles deixou o encontro se recusando a fazer comentários aos jornalistas sobre taxas de juros, inflação e queda da produtividade industrial. A saia-justa de Meirelles para falar sobre a situação no Brasil antes da reunião do Copom é tão grande que ele informou que está em negociações com o BIS para que as reuniões bimestrais dos BCs não coincidam em 2006 com as semanas de reuniões do Copom. "Não posso falar sobre o cenário, senão estaria antecipando o Copom."

Ele, porém, admite que o cenário de liquidez no mercado internacional está favorável ao Brasil. "Está claro que há uma mudança estrutural no mundo e uma maior liquidez. Isso é bom, pois significa mercados mais benignos e que cobram prêmios de riscos menores."