Título: Meirelles: Impacto da alta do petróleo no País será menor
Autor: Nicola Pamplona, Jacqueline Farid e Kelly Lima
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/09/2005, Economia & Negócios, p. B4

A alta do preço de petróleo pôs a comunidade financeira em alerta. Na reunião de ontem do Banco de Compensações International (BIS) na Basiléia, o valor do combustível esteve no centro dos debates entre os maiores bancos centrais do mundo, que alertaram sobre as conseqüências negativas da alta. O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, ressaltou, porém, que o Brasil não será afetado da mesma forma que foi no passado. Mas ele admitiu: "Parte desse aumento pode ter vindo para ficar. O preço médio pode ter tido uma mudança estrutural." Meirelles optou por não comentar sobre juros, inflação ou economia, pois o Comitê de Política Monetária (Copom) se reúne hoje e amanhã. Mesmo assim, ele indicou que o preço do petróleo não deve criar pressão inflacionária no Brasil, como já criou no passado.

A falta de investimentos no setor petrolífero nos últimos anos preocupa. Segundo Meirelles, várias empresas estão hesitando em ampliar sua capacidade de produção por terem dúvida sobre o nível que ficará o petróleo. "O preço final do barril dependerá dos investimentos. A última grande destilaria nos Estados Unidos foi feita nos anos 70. Temos todos de estar de olho nisso, inclusive o Brasil." Para ele, uma das conseqüências positivas disso poderá ser a viabilização de programas de substituição de petróleo, como o etanol.

Na avaliação do presidente do Banco Central Europeu (BCE), Jean-Claude Trichet, o crescimento da economia mundial em 2005 e 2006 e a inflação poderão ser afetados. "É uma questão matemática", disse Trichet, que atua como porta-voz dos dez maiores BCs do mundo. Segundo ele, se essa condição for mantida, o PIB mundial crescerá menos. O BCE já reduziu as expectativas para a Europa para este ano e o próximo.

Segundo os EUA, o furacão Katrina terá um impacto no avanço da economia americana no terceiro trimestre, mas logo haverá uma retomada.

Para os bancos centrais, a única consolação é que se trata de uma crise de demanda, e não de abastecimento. Por isso, Trichet acredita que a alta dos preços pode estar perdendo força. A demanda maior é resultado das novas necessidades da China e o relativo dinamismo da economia internacional.