Título: Petrobrás descarta novos reajustes
Autor: Nicola Pamplona, Jacqueline Farid e Kelly Lima
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/09/2005, Economia & Negócios, p. B4

O presidente da Petrobrás, José Sérgio Gabrielli, descartou ontem a possibilidade de novos reajustes nos preços da gasolina e do diesel, enquanto as cotações internacionais do petróleo se mantiverem nos níveis atuais. Segundo ele, após os aumentos anunciados na sexta-feira, o preço dos produtos equipara-se a um petróleo "entre US$ 60 e US$ 70" por barril. Em seminário realizado no Rio, a política de reajustes da companhia recebeu críticas de investidores privados. "Achamos que os preços já chegaram a um novo patamar e por isso decidimos pelo reajuste", disse o executivo. Ele admitiu, porém, que o arrefecimento dos índices de inflação contribuiu na hora de decidir. "A Petrobrás não pode desconsiderar o que acontece na economia brasileira. Sempre analisamos os impactos sobre a atividade econômica", explicou, citando fatores como a renda do trabalhador, a inflação e a balança comercial brasileira entre os que são levados em conta na hora de decidir por aumento de preços.

Gabrielli comentou também as críticas de ingerência do governo na política de preços da empresa: "Toda empresa tem influência de seu acionista controlador. Mas isso ocorre no âmbito do Conselho de Administração". O executivo - que classificou como "esquizofrênica" a situação da petroleira, que tem controle estatal mas 60% de seu capital está em mãos de investidores privados - disse que o conselho e o Ministério de Minas e Energia foram informados que o reajuste seria anunciado.

O presidente da Petrobrás evitou responder se os aumentos eliminaram a defasagem em relação ao mercado internacional. "Não trabalhamos com o conceito de defasagem", justificou, reforçando que há uma série de fatores considerados na avaliação dos preços, além das cotações dos derivados no mercado americano. O presidente da Petrobrás frisou ainda que a empresa não pretende adotar nenhuma fórmula para ajustar os preços dos combustíveis e vai manter a política de ajustes de longo prazo. "O objetivo é manter os preços alinhados na média anual."

Participante do mesmo seminário, Jim Burton, diretor do Instituto de Pesquisa da Universidade de Cambridge, destacou que as cotações internacionais devem continuar pressionadas, pois o inverno no hemisfério norte, quando o consumo de óleo de calefação aumenta, está chegando e o furacão Katrina provocou o fechamento de refinarias nos Estados Unidos.

CRÍTICAS

A política de preços da Petrobrás foi criticada pelo presidente do Instituto Brasileiro do Petróleo (IBP), João Carlos De Luca, que também preside a petroleira espanhola Repsol no País. Para ele o reajuste nos preços da gasolina e do diesel "recompõe perdas, mas não em nível ideal". De Luca classificou o aumento como "tardio", após comentar todo o cenário internacional do petróleo no último ano. "No período de 12 meses, o barril aumentou em torno de 50%", considerou.

A Repsol é controladora da Refinaria de Manguinhos, cujas atividades foram suspensas para evitar prejuízos com a defasagem dos preços.

Segundo o executivo, o reajuste feito pela Petrobrás "não atende o segmento de refino privado". Ele disse que ainda deverá avaliar se o aumento permitirá a retomada das atividades em Manguinhos, que está parada há cerca de 40 dias. A outra refinaria privada brasileira, Ipiranga, também suspendeu suas atividades.

Já o presidente da Petrobrás disse que a empresa continua disposta a negociar uma saída em conjunto com as duas empresas, para que possam retomar as operações. Sem citar o nome das companhias, ele criticou controladores de refinarias que não investiram em adequação dos equipamentos para processar óleo pesado. Segundo ele, as margens de refino de óleo leve, tipo mais usado por Manguinhos e Ipiranga, estão baixas e são um problema para refinarias de todo o mundo.

"A adaptação das unidades exige investimentos altos, tem que tirar parte dos ganhos para investir", afirmou, destacando que a estatal vai gastar US$ 8 bilhões até 2010 para melhorar as operações de suas refinarias. Uma crítica constante a Manguinhos, principalmente, é que a empresa não investiu em projetos de modernização de suas instalações, construídas na década de 50.