Título: MPE investiga Ademir da Guia
Autor: Arthur GuimarãesRoberto Fonseca
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/09/2005, Metrópole, p. C6

O Ministério Público Estadual (MPE) decidiu investigar as denúncias de que o vereador Ademir da Guia (PC do B) embolsava parte do salário de assessores na Câmara. A Promotoria de Justiça da Cidadania abriu ontem investigação e pretende ouvir o ex-jogador do Palmeiras e funcionários do seu gabinete. A Corregedoria da Câmara também vai apurar o caso, que pode levar à cassação do parlamentar. Segundo as denúncias, negadas pelo vereador, Ademir conseguia R$ 15 mil mensais com a retenção do dinheiro. Cinco assessores de Ademir assinaram um documento em que denunciam o vereador. O dossiê inclui planilhas que apontariam o repasse de parte do salário. Ele foi entregue ao presidente da Câmara, Roberto Tripoli (sem partido), que enviou ontem a denúncia à Corregedoria da Casa.

Tripoli disse que foi procurado por mais dois funcionários do gabinete de Ademir, que disseram não ter assinado o documento por medo da mulher do vereador, Sueli Chemello. Acusada de impor aos assessores o pedágio sobre salários, Sueli é conhecida na Câmara por tratar o marido aos berros.

O dossiê deve ser analisado a partir de segunda-feira pelo corregedor, vereador Wadih Mutran (PP). Ele indicará um relator, que terá dez dias para dizer se a denúncia deve ou não ser analisada pelo órgão. Se a corregedoria aceitar a denúncia, o processo seguirá para o plenário, que pode determinar a cassação do mandato de Ademir. Ontem, um dia após a denúncia ter vindo a público, o chefe de gabinete do vereador, Alberto Moraes, disse ter recebido uma ameaça de morte pelo telefone. Segundo ele, o número que apareceu no bina, aparelho identificador de chamadas, é o de um telefone público próximo do Palácio Anchieta, sede da Câmara, no centro da cidade.

Moraes teve atritos com Ademir e sua exoneração do cargo deve ser publicada hoje pelo Diário Oficial da Cidade. Ele chegou a ser apontado por pessoas próximas a Ademir como o autor das denúncias, mas nega isso. Seu nome não está entre os dos cinco assessores que assinaram o dossiê entregue ao presidente da Câmara.

Na denúncia apresentada pelos funcionários, os indícios mais fortes de que havia um esquema de desvio de salários no gabinete são uma série de planilhas de vencimentos. Em todas, apareceria uma coluna denominada ¿repasse para o vereador¿. O dossiê aponta, por exemplo, que duas pessoas do gabinete que recebiam cerca de R$ 5.300,00 líquidos teriam de entregar R$ 2.900,00. A tabela seria feita a pedido do próprio Ademir, como forma de prevenir desobediências.

Outros indícios que podem ser usados para comprovar a denúncia são demonstrativos da movimentação bancária dos funcionários. Eles fariam saques logo após o dia do pagamento, com valores próximos aos indicados nas planilhas.

A denúncia contra o ex-craque repercutiu fora da Câmara. ¿Sempre torci para que Ademir se envolvesse com boas pessoas na política. Agora torço para que a falha, se é que existiu, tenha ocorrido com a equipe, e não com ele¿, disse o técnico do Palmeiras, Leão, que jogou ao lado de Ademir nos anos 70.