Título: 'As mentiras vão aparecer e os que têm culpa pagarão', promete Lula
Autor: Leonencio Nossa
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/09/2005, Nacional, p. A4

MACEIÓ - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem que a punição de envolvidos em irregularidades é natural na vida. Em discurso na inauguração do novo aeroporto de Maceió, afirmou que o desenrolar da crise não atinge os bons índices da economia nem produz traumas. "Não há por que ficarmos mais ou menos traumatizados", ressaltou. "As mentiras e verdades que foram ditas vão aparecer e aqueles que tiverem culpa pagarão pelos erros cometidos." Pouco antes, ele contou ao vice-presidente da Câmara, José Thomaz Nonô (PFL-AL), que achou difícil a sessão que cassou o mandato do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), pivô da crise do mensalão. "Foi pedreira, companheiro. Você está de parabéns", afirmou o presidente, segundo relato de auxiliares. Nonô comandou a sessão.

À platéia de 2 mil pessoas, Lula disse que a sociedade é a mais prejudicada com escândalos de corrupção. "Tenho responsabilidade de cuidar para que a acusação ou denúncia contra quem quer que seja não prejudique os 186 milhões de brasileiros, que no fundo são as vítimas quando as coisas não dão certo", salientou. "O País tem seus percalços políticos; não é a primeira nem a última vez. É bom que seja assim, pois isso consolida o processo democrático." Após repetir os bons números de oferta de emprego e exportações, ele sugeriu que não acredita na perda da popularidade, apesar das pesquisas. "O que está caindo na verdade? A inflação e os preços." Também ressaltou que quer cumprir todo o mandato.

Lula disse que o País vive um momento econômico muito bom. "Não houve na história fatores tão positivos. É uma pena que a gente não tenha o dom de Deus para fazer as coisas mais rapidamente. Estamos tentando levar o Brasil para a frente, com a economia crescendo."

No mesmo palanque, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), disse no discurso que apóia Lula. "Nós dois, eu no Legislativo e o senhor no Executivo, vamos fazer absolutamente tudo para que o Brasil atravesse este momento de crise e dificuldade", afirmou. "Vamos dar as respostas que a sociedade cobra com rapidez, pois a sociedade não agüenta mais esperar."

Renan afirmou que País precisa voltar à normalidade para evitar que o Estado seja "maculado". Também defendeu a punição dos envolvidos nas irregularidades. E, como Lula, não citou nomes.

CRÍTICAS

Já o governador de Alagoas, Ronaldo Lessa (PDT), fez em discurso duras críticas à política econômica, que acusa de ser responsável pelas dificuldades financeiras dos Estados. "A política de superávit deve ter limites", afirmou.

Lula não gostou das críticas. Lembrou que a negociação para pagamento da dívida dos Estados foi acertada numa reunião entre governadores e governo federal.

No fim da solenidade, Lessa atacou diretamente o ministro da Fazenda, Antonio Palocci. "O Palocci é mais ortodoxo do que o Pedro Malan", reclamou, numa referência ao ministro da Fazenda do governo Fernando Henrique. "Se levei um puxão de orelha do Lula, dei outro nele", comentou Lessa.