Título: PF vê 'veementes indícios de crime' contra Severino
Autor: Vannildo Mendes
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/09/2005, Nacional, p. A7

BRASÍLIA - A Polícia Federal informou ontem ao Supremo Tribunal Federal (STF) que o inquérito do mensalinho encontrou "indícios veementes de crime" cometido pelo presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE). Ele é acusado de ter recebido propina do empresário Sebastião Buani para prorrogar a concessão de seu restaurante da Câmara. Os autos do inquérito foram entregues ao STF porque Severino é deputado e tem direito a foro privilegiado. Para a PF, são fortes as evidências contra a versão de Severino para o cheque que recebeu de Buani. Em depoimento, sua secretária Gabriela Kênia Martins, que sacou os R$ 7,5 mil, disse que o dinheiro serviu para pagar gastos com gráficas de Brasília relativos à campanha do filho do presidente da Câmara, Severino Júnior, já morto. Na edição de anteontem, porém, o Estado revelou, com base em pesquisa no site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que Severino Júnior declarou ter arrecadado R$ 1 mil e gasto apenas R$ 33,12 na campanha de 2002.

No ofício ao STF, a PF pede a continuidade das investigações e sugere novas diligências. Uma delas é a realização de buscas e apreensões na casa e no trabalho de Kênia. O objetivo é apreender a agenda de trabalho da secretária ou algum documento onde possa estar anotada a contabilidade do recebimento do mensalinho.

O STF também recebeu a sugestão de quebra do sigilo bancário e telefônico de Severino e Buani. O objetivo é fazer o cruzamento das datas de saques na conta do empresário com os depósitos em favor de Severino, de familiares ou prepostos do deputado. Na próxima semana, o tribunal designará um relator para o caso e pedirá o parecer do procurador-geral da República, Antônio Fernando Barros de Souza.

Se ele aprovar as diligências requeridas, Severino será investigado por corrupção passiva, concussão (extorsão praticada por servidor público) e improbidade administrativa. Com a confirmação da tese de corrupção, Buani também será processado, pois teria pago a propina com a intenção de obter vantagem pessoal. Buani só escapará se ficar comprovado que foi vítima de extorsão.

Kênia também será investigada como cúmplice de Severino e pode ser indiciada. Depois de negar ter recebido qualquer valor de Buani, ela foi desmascarada com o aparecimento do cheque de R$ 7,5 mil em seu nome. Chamada para novo depoimento, admitiu ter sacado o dinheiro.