Título: Eleição no PT acirra críticas contra a política econômica de Palocci
Autor: Ricardo Brandt
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/09/2005, Nacional, p. A14

A política econômica do governo Lula monopolizou o debate entre os candidatos à presidência do PT, realizado ontem no Diretório Nacional, em São Paulo. Alterando apenas o tom das críticas, todos defenderam mudanças na condução da economia e mais investimentos nas áreas sociais. Em meio aos ataques, Ricardo Berzoini, do Campo Majoritário, se colocou como o defensor do governo. Durante uma hora e meia do debate promovido pela Rádio CBN, a maior parte dos candidatos atacou o pagamento da dívida externa, as taxas de juros, o superávit fiscal primário, o não cumprimento de metas como os 10 milhões de empregos e a falta de investimentos sociais. Todos projetando em Berzoini, favorito na disputa, a figura do representante deste governo.

"Nossa política econômica mantém juros altos e um superávit primário muito alto", afirmou o candidato Valter Pomar, da corrente Articulação de Esquerda. "Ou seja: os recursos da sociedade brasileira estão sendo transferidos para o capital financeiro, quando o contrário deveria acontecer."

O candidato da corrente O Trabalho, Markus Sokol, também atacou o não cumprimento de promessas de campanha. "O governo do presidente Lula, do ministro (da Fazenda, Antonio) Palocci, do ministro (da Reforma Agrária, Miguel) Rossetto frustrou as aspirações dos 53 milhões de eleitores que votaram esperando a reforma agrária e esperando 10 milhões de empregos. Hoje o País trabalha para pagar a dívida externa."

Apesar de defender o governo, nem Berzoini considerou a economia intocável. "Acho que a política econômica não é imutável. O próprio governo vem adaptando o processo político à realidade do País. Nós estamos num caminho para reduzir a taxa de juros, para aumentar a velocidade do crescimento econômico e da execução orçamentária, aumentando o dinheiro para programas sociais."

Entre as mudanças defendidas por Berzoini está a discussão das metas de inflação e um novo "ritmo" para a execução orçamentária federal. "Há sim possibilidade de manter os fundamentos (da economia), mas acelerar a gestão orçamentária e, portanto, gerar mais emprego e mais crescimento econômico", explicou o candidato do Campo Majoritário.

RADICAL

Plínio de Arruda Sampaio, da Ação Popular Socialista, foi o mais radical. Ele defendeu a saída de Palocci e de membros do PSDB que ocupam cargos no governo federal. "Precisamos reforçar o partido para dizer ao governo que não queremos essa tucanagem lá no Ministério da Fazenda, nem no Banco Central. Queremos sim que saia o Palocci da Fazenda, porque o Palocci não representa a política e o programa do PT."

A artilharia dos candidatos contra a política econômica exigiu que Berzoini assumisse o papel de defensor do governo. "Para discutir política econômica é preciso verificar o estado em que o governo recebeu o País. Uma situação absolutamente descontrolada, com a credibilidade internacional do País aos frangalhos, sem crédito para exportação, com o risco país explodindo e a inflação ameaçando perder o controle", afirmou ele. E acrescentou: "O presidente e sua equipe econômica tiveram grande competência para recolocar o País no caminho do crescimento e da credibilidade."