Título: Seqüestrador reafirma que foi contratado por R$ 1 mi
Autor: Fausto Macedo
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/09/2005, Nacional, p. A16

John, acusado de ter participado da operação de seqüestro e morte do prefeito Celso Daniel, reafirmou ontem à Justiça que o empresário Sérgio Gomes da Silva prometeu R$ 1 milhão "pelo serviço". Interrogado durante cerca de uma hora pelo juiz Luís Fernando Migliori Prestes, que conduz processo sobre o assassinato, John revelou que Sérgio Sombra, como é conhecido o empresário, avisou o grupo escalado para capturar o prefeito. "Estamos saindo do restaurante", teria dito Gomes, ao telefone, para um dos integrantes da quadrilha. Celso Daniel foi emboscado na periferia de São Paulo. Era noite de 18 de janeiro de 2002. Dois dias depois, o corpo foi encontrado em uma estrada de terra de Juquitiba. A promotoria está convencida de que ele foi vítima de vingança porque teria decidido dar fim em suposto esquema de corrupção na prefeitura de Santo André, depois de ter descoberto que o dinheiro de propina não estava mais sendo destinado ao financiamento de campanhas do PT. A Polícia Civil tem outra versão: crime comum.

Elcídio de Oliveira Brito, o John, é um dos sete prisioneiros do caso Celso Daniel. Em agosto, ele depôs aos promotores de Justiça e contou que Sérgio Gomes havia prometido pagar R$ 1 milhão pela eliminação do prefeito. O sinal foi de US$ 40 mil, afirmou. Ontem, diante do juiz do processo e dos promotores Roberto Wider Filho e Adriana Ribeiro Soares de Morais, ele manteve os termos de seu relato anterior e atribuiu ao empresário "responsabilidade direta" pelo seqüestro. John declarou que dirigia uma Blazer na noite do cerco a Daniel. Outros dois carros, um Santana branco e um azul, foram usados pelo grupo.

Daniel havia acabado de jantar com Sérgio Gomes em um restaurante da Alameda Santos. Os dois se dirigiam a Santo André em uma Pajero, conduzida pelo empresário. "Eu soube pelos outros que estavam comigo que a vítima foi retirada da Pajero pelo Sombra", relatou o seqüestrador. "Ele deu um pontapé na vítima. Depois levamos (Celso) para a favela Pantanal. Eu não tive contato direto com ele."

"A ordem para matar veio de Campinas", confessou John. Segundo ele, Ivã Monstro, que também está preso, comunicou ao grupo sobre a decisão de executar Daniel. Rastreamento telefônico feito pelo MP confirma que Ivã esteve em Campinas na manhã de 19 de janeiro. "Não vi a cor do dinheiro", disse John.

"É uma história controversa, parece que o script foi mal decorado", rebateu o criminalista Adriano Salles Vanni, defensor de Sérgio Gomes. "Ele (John) deixou um monte de coisas vagas, uma história contraditória. É patético. Sérgio não tem nada com o crime, ele foi vítima."