Título: Irmão de Daniel desafia assessor de Lula
Autor: Fausto Macedo
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/09/2005, Nacional, p. A16

O médico João Francisco Daniel, irmão do prefeito Celso Daniel (PT) - seqüestrado e fuzilado em janeiro de 2002 -, disse ontem que está à disposição da CPI dos Bingos para fazer uma acareação com o chefe de gabinete da Presidência, Gilberto Carvalho. "A acareação é muito importante, mas desde já gostaria de fazer uma solicitação aos senhores parlamentares: quero uma acareação a portas abertas, nada de portas fechadas." O encontro entre João Francisco e Carvalho foi sugerido pelo líder do PFL no Senado, José Agripino (RN), depois que o assessor particular de Lula depôs à CPI, em sessão reservada na quinta-feira, e tentou desqualificar o médico, atribuindo-lhe papel de lobista de uma empresa de ônibus em Santo André.

"Estou aguardando com expectativa, espero que a oposição consiga aprovar a acareação", insistiu João Francisco. Ele reafirmou que Carvalho, uma semana depois da morte de Celso Daniel, contou que parte do dinheiro arrecadado em suposto esquema de propinas na cidade era destinada a financiamento de campanhas eleitorais do PT.

Ainda segundo o irmão de Celso Daniel, o chefe de gabinete da Presidência disse na ocasião que havia entregue R$ 1,2 milhão em dinheiro para o então presidente do PT, deputado José Dirceu. A revelação sobre o dinheiro da corrupção teria sido feita por Carvalho em 3 reuniões, a primeira delas a 26 de janeiro de 2002, depois da celebração da missa de sétimo dia por Celso Daniel.

LOBISTA

À CPI dos Bingos, Carvalho afirmou que teve 5 encontros com parentes do prefeito, depois do crime, mas negou ter falado sobre esquema de extorsão. "Já esperava esse tipo de ataque, mas é preciso deixar claro que foi ele (Carvalho) quem telefonou e disse que precisava falar com a família, que queria falar comigo e com meu irmão", lembra João Francisco. "O encontro do dia 26 foi na minha casa. Ele falou (sobre o dinheiro de campanha) não foi uma, nem duas vezes. Repetiu isso em 3 oportunidades. Foi ele quem falou e fomos testemunhas disso, meu irmão e eu. E tem mais uma testemunha, cuja identidade vou revelar oportunamente. Testemunha você não escolhe."

Ao reiterar que espera ficar frente à frente com o assessor de Lula, o médico destacou que na CPI realizada pela Câmara Municipal de Santo André todos os depoimentos foram abertos, menos o dele. Carvalho o acusou de lobista já naquela época. "O que é ser lobista?", reagiu João Francisco, amigo dos proprietários de uma empresa de ônibus que teriam sido forçados a pagar R$ 2 milhões de propinas para não terem a concessão cassada. "Lobista é você pedir ao sr. Carvalho que tomasse providências contra os achacadores de empresas de ônibus? É isso? Não fui lobista, nunca."