Título: Polícia mata o ladrão número 1 do Rio
Autor: Roberta Pennafort e Alexandre Rodrigues
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/09/2005, Metrópole, p. C1

Chegou ao fim a trajetória de crimes do assaltante de casas mais procurado do Rio. Pedro Machado Lomba Neto, conhecido como Pedro Dom, um rapaz de classe média que começou a roubar por ter ficado viciado em cocaína, foi morto ontem de madrugada pela polícia, aos 23 anos, depois de ser perseguido durante uma hora por ruas da cidade. Escolheu a morte à rendição. O criminoso foi encurralado num corredor do prédio de número 181 da Rua Alexandre Ferreira, na Lagoa, zona sul, onde se refugiou para se esconder dos policiais.

- Não vou me entregar!, gritava, segundo os agentes que participaram da operação.

Ele entrou no edifício depois de seguir, pelo Túnel Rebouças, da zona norte à zona sul, numa moto. Os policiais monitoravam as ligações feitas de seu celular havia dois meses. Ontem, à 0h30, ele ligou para traficantes da Rocinha, de quem era aliado, pedindo que um motoqueiro que ajudava o tráfico fosse buscá-lo na Vila dos Pinheiros, zona norte, onde se escondia.

O motoqueiro foi à favela e depois pegou o caminho de volta para a Rocinha com Pedro Dom na garupa. Passou pela Linha Vermelha e entrou no Túnel Rebouças, que liga as zonas norte e sul. A polícia fechou então a saída do túnel, na Lagoa. Armado de pistola, Pedro Dom atirou diversas vezes contra os policiais, ignorando a ordem para que se rendesse.

Seguiu em frente e furou o bloqueio, mesmo com a polícia lhe apontando fuzis. Lançou uma granada para o alto. Três policiais ficam feridos sem gravidade, entre eles o delegado Eduardo Freitas, que comandou a operação. A perseguição continuou pelas ruas da Lagoa. Um tiro disparado pela polícia acertou um dos pneus da moto e o assaltante a abandonou.

O motociclista, Sandro Soares Tavares, ficou para trás e acabou preso. Pedro Dom invadiu o prédio e subiu correndo as escadas. Os policiais o perseguiram até o terceiro andar.

Ao reagir, foi atingido por vários tiros. Levado para o Hospital Miguel Couto, no Leblon, morreu pouco depois. O corpo tinha cinco ferimentos, segundo a Polícia Civil: tórax e pé, mão, braço e ombro direitos.

DESESPERO

No hospital, o pai de Pedro Dom, o policial civil aposentado Luiz Victor D. Lomba, reagiu à presença da imprensa. Exaltado, insinuou que o filho começou a assaltar para dar dinheiro a policiais que o achacavam, desde a primeira vez que foi preso. "Por que vocês não vão atrás de quem extorquiu dinheiro de meu filho e o obrigava a assaltar?", perguntou a fotógrafos.

O chefe de Polícia Civil, Álvaro Lins, atribuiu as declarações ao "desespero do pai". Lomba tinha manchas de sangue no rosto e nos cabelos - por ter abraçado o corpo do filho ensangüentado no necrotério. Aos repórteres, contou que tinha convencido o rapaz a se entregar.

Com Pedro Dom, foi encontrada uma mochila cheia de jóias levadas no último assalto comandado por ele, anteontem, num prédio da Ilha do Governador, zona norte. Ontem, as vítimas foram chamadas para reconhecer seus pertences.

Pedro Dom chegou a ser preso em 2002, por porte ilegal de arma. Foi solto graças a um laudo do Hospital Psiquiátrico Heitor Carrilho, que atestou dependência química. Foi encaminhado para tratamento, mas o abandonou. Quando começou a assaltar, deixou o apartamento em que morava com o avô, para onde tinha ido depois da separação dos pais, e se refugiou em imóveis alugados na zona sul. Acabou na Favela da Rocinha, onde se tornou cúmplice do tráfico local, e de lá partiu para a Vila dos Pinheiros.

Para o advogado do assaltante, Rogério Rocco, que era pago por sua mãe a prestações, a desintegração familiar e a cocaína foram sua desgraça.

"Ele era revoltado", afirmou. Com a morte do bandido e a prisão recente de oito integrantes de sua quadrilha, a polícia acredita que os roubos a residências vão cair drasticamente no Rio.