Título: Nova gravação liga PMs ao tráfico
Autor: Roberta Pennafort
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/09/2005, Metrópole, p. C4

A aposentada que gravou a ação de traficantes de drogas em Copacabana, zona sul do Rio, não está sozinha. Uma pessoa ainda não identificada filmou 14 policiais militares recebendo propina de um traficante da Favela da Coréia, na zona oeste. Eles tiveram a prisão preventiva decretada ontem pela Justiça Militar. As gravações, que teriam sido feitas este ano, foram entregues anonimamente na semana passada ao comando da Polícia Militar. Os 14 PMs já estão presos administrativamente. Um outro PM acusado de ligação com o tráfico, já identificado, foi convocado para se apresentar ontem. O grupo pode ser condenado pelos crimes de concussão ou de corrupção passiva. A pena é de até 8 anos de prisão.

Os policiais trabalham no 14º Batalhão da Polícia Militar, em Bangu. São quatro sargentos, um tenente, dois cabos e oito soldados. Eles foram pegos em flagrante recebendo maços de dinheiro de um traficante conhecido como Ceguinho. As filmagens foram feitas de dentro de um bar abandonado na favela.

Ainda não se sabe quem foi o autor da gravação, mas a polícia suspeita que as imagens tenham sido feitas pelo coronel do Corpo de Bombeiros Walter dos Santos Paraíso. Ele foi preso em maio no Paraná, sob a acusação de fornecer munição para a quadrilha de Robson André da Silva, o Robinho Pinga, que domina o tráfico na Coréia. O motivo pelo qual ele teria feito a filmagem ainda é ignorado.

"Estou muito triste", disse o comandante da PM, coronel Hudson Miranda. "Temos de separar o joio do trigo, buscando atender melhor a população."

O secretário de Segurança Pública, Marcelo Itagiba, criticou a tese de que os baixos salários dos policiais levam à corrupção. "Ninguém foi enganado quando entrou para a polícia. Eles sabiam quais seriam seus vencimentos.Isso não é justificativa, não é desculpa." O secretário disse também que o Estado concedeu 17% de aumento salarial à categoria.

O Ministério Público Estadual (MPE) vai oferecer a denúncia contra os acusados depois da conclusão do Inquérito Policial-Militar (IPM) aberto pela Corregedoria da PM. A investigação já chegou à Auditoria Militar. Existe ainda a suspeita de que os PMs estariam vendendo armas aos bandidos.

BALANÇO

Desencadeada em fevereiro, a Operação Navalha na Carne, de combate à corrupção na polícia fluminense, já levou à prisão de 108 PMs envolvidos com irregularidades. As prisões administrativas chegam a 462. De 1999 até o ano passado, 950 policiais civis e militares foram expulsos por causa de desvios de conduta, segundo a Secretaria da Segurança.