Título: 'Ele saiu como herói', diz filha
Autor: Mariangela Gallucci
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/09/2005, Nacional, p. A6

Apontada por amigos como herdeira política natural do ex-deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), a filha do ex-parlamentar, Cristiane Brasil (PTB), vereadora no Rio, ainda não assumia ontem a candidatura a deputada federal e dizia ter muito a refletir. "Tenho um mandato a cumprir, há uma eleição no ano que vem e não sei o que ele (Jefferson) pensa", declarou ela. Cansada, depois de passar mais de duas horas com o pai e cerca de 30 pessoas, entre políticos e amigos, no apartamento funcional, em Brasília, ela negou um clima de comemoração após a cassação, embora reconhecesse que o ambiente não era de derrota ou tristeza.

"Queriam que a gente fizesse um enterro", afirmou em seu gabinete na Câmara do Rio, para a qual, ironicamente, foi eleita numa coligação do PTB com o PT, em 2004. "A vida continua, meu pai tem 52 anos, saiu dessa como herói, não saiu por causa da opinião pública." A vereadora contou que, quando foi lido o 257.º voto pela cassação, oficializando-a, o pai, que acompanhava a contagem pela TV, comentou: "Achava muito difícil que o resultado fosse diferente disso". Entre os que prestavam solidariedade a Jefferson estava o presidente do PTB, Flávio Martinez. De acordo com a parlamentar, o ex-deputado não se abalou. "Meu pai é muito forte, é surpreendente."

A vereadora disse que a cassação foi um risco que Jefferson dava "como certo" desde que fez as primeiras denúncias. A parlamentar afirmou que Jefferson talvez nem saísse mais candidato a nada, mas queria deixar a vida pública por sua vontade, não pelo que ela chamou de "punição de fariseus". Em tom magoado, afirmou que Jefferson não retomará as denúncias com que, desde 6 de junho, atingiu o governo de Lula.

"De jeito nenhum (o ex-deputado voltará a denunciar)!", afirmou, sentada à mesa sobre a qual estava o jogo "Escândalo - O jogo em que tudo acaba em pizza". "Esse papel de delator sempre coube ao PT. As vestais da moralidade, que sempre apresentavam dossiês contra os colegas..." Ela disse que Jefferson e os petistas sempre estiveram em campos opostos porque o então deputado, que é advogado criminalista, sempre era escalado para defender os colegas das acusações petistas.

Ela disse que o pai só teve o "papel de delator" porque foi vítima "de uma armação para ser desmoralizado". "Armaram uma cilada para pegar o meu pai, se aproveitaram da lealdade dele, ele foi leal a Lula até o fim. Colocaram os R$ 4 milhões (parte de um acerto PT/PTB para a campanha de 2004) e não deram os comprovantes para a contabilização. Isso cassou o meu pai. Ele acreditou na promessa de ética do PT."