Título: Severino vive dilema de renunciar apenas ao cargo ou ao mandato
Autor: Lisandra Paraguassú e Cida Fontes
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/09/2005, Nacional, p. A8

Apesar da pressão cada vez mais forte, o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), ainda não decidiu o que fazer. Ele está entre renunciar ao mandato de deputado - o que lhe permitiria disputar a eleição do ano que vem - ou abrir mão apenas da presidência da Câmara e tentar brigar pela salvação de seu mandato. Severino deverá tomar uma decisão até segunda-feira, antes que seja formalmente aberto o processo de cassação pedido pelos partidos de oposição. A indecisão do deputado ficou patente em entrevista ao colunista Jorge Moreno, de O Globo (ver reportagem ao lado). Severino afirmou ao jornalista que não está abandonado e que, se enfrentar o processo de cassação, ganhará em plenário. O presidente da Câmara deve conversar hoje com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A conversa foi acertada na tarde de ontem, num almoço entre Severino e o líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), o líder do PC do B, Renildo Calheiros (PE), e o deputado Aldo Rebelo (PC do B-SP).

Antes de escolher por qualquer das hipóteses ele quer consultar suas bases em Pernambuco. No início da noite de ontem, ele ainda analisava se iria ao Estado ou se faria as consultas por telefone. "Acredito que ele não vai ficar na presidência", disse o deputado Nilton Capixaba (PTB-RO), após conversar com Severino.

O presidente da Câmara passou a ser ameaçado de cassação depois que o empresário Sebastião Buani, concessionário de restaurantes na Câmara, o acusou de cobrar propina para manter contratos. A situação de Severino ficou por um fio depois que Buani apresentou um cheque de R$ 7,5 mil, sacado por uma das secretárias da presidência da Câmara.

PRAZO

O prazo para Severino renunciar sem perder seus direitos políticos deve se esgotar na próxima terça-feira. Esta deve ser a data em que a Mesa da Câmara enviará ao Conselho de Ética o pedido de cassação apresentado pelos partidos de oposição. A partir daí, mesmo que renuncie, Severino perde os direitos políticos por oito anos se for condenado. Ontem, a tendência de Severino era continuar na briga. Ele chegou a dizer a assessores que não sairia da Câmara enquanto não provasse sua inocência e também não sairia como "recebedor de propina".

A romaria de deputados do baixo clero (parlamentares sem expressão) à residência oficial, no Lago Sul, mostra que o presidente pode ter razão quando diz que não está abandonado. "Sou amigo incondicional do Severino. Nessas horas os amigos têm que apoiar", disse o deputado Cleonâncio Fonseca (PP-SE), um dos visitantes.

Além dos líderes da base governista, vários deputados estiveram na casa. Severino tomou café da manhã com Francisco Dornelles (PP-RJ). "Ele está examinando as alternativas para tomar posição", afirmou o deputado, que tem ido todos os dias "dar um abraço" ao colega.

Depois, recebeu o primeiro vice-presidente da Casa, José Thomaz Nonô (PFL-AL). "O presidente está evidentemente preocupado e me disse que vai avaliar a posição dele para chegar a uma conclusão em meados da semana", afirmou Nonô.

Depois do almoço, os deputados José Janene (PP-PR) e Sandro Mabel (PL-GO) passaram pela casa de Severino. "Fui apenas me despedir do presidente. Segunda-feira teremos outro encontro para que ele nos diga qual a sua decisão", disse Janene. Esforçando-se para não ser visto pela imprensa, o ministro das Cidades, Márcio Fortes - indicado pelo PP - também passou pela casa de Severino, onde ficou por cerca de uma hora.

No final do dia, Severino recebeu os parlamentares que compõem a Mesa da Câmara para uma reunião. Em pauta, a situação dos processos dos 16 deputados ameaçados de cassação por envolvimento no escândalo do mensalão e que recorreram ao Supremo Tribunal Federal (STF) e, na mesma linha, o seu próprio destino.