Título: Economia é imune à crise, diz Lula
Autor: Flavio Leonel, Vera Rosa e Paulo Sotero
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/09/2005, Nacional, p. A9

QUEDA: Pesquisa divulgada ontem pela Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomércio-SP) mostrou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva seria derrotado, se as eleições presidenciais ocorressem neste mês. De acordo com levantamento do dia 2 de setembro com cerca de mil entrevistados paulistanos, 66,2% dos eleitores não votariam em Lula, 25,3% votariam e 8,6% não souberam ou não quiseram responder. Já as administrações do governador paulista Geraldo Alckmin e do prefeito de São Paulo, José Serra, foram melhor avaliadas. Somente Alckmin e Serra, dois eventuais candidatos do PSDB à Presidência, tiveram aprovação de suas gestões por mais da metade dos entrevistados. O governo Alckmin teve 70% de aprovação, a administração Serra foi aprovada por 52% e o governo Lula por 46%

Segundo a pesquisa de avaliação política da entidade, Lula "pode ter perdido" metade do eleitorado responsável pela vitória nas eleições presidenciais de 2002. Entre os entrevistados que votaram nele na última eleição, 49,8% não repetiriam o voto numa eventual participação de Lula no pleito do próximo ano, enquanto 41,1% votariam novamente e 9,1% não souberam responder. No levantamento com eleitores que não votaram no presidente, o porcentual dos que não escolheriam Lula aumenta de maneira expressiva, para 89,4%, contra 3,2% que votariam e 7,3% que preferiram não responder.

Animado com a queda dos juros, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva garantiu ontem, em Nova York, que a economia brasileira é imune à crise e o crescimento será duradouro. "A economia não será mexida por conta de política e campanha eleitoral", assegurou. "Tomamos a decisão de que o Brasil não pode jogar fora a oportunidade de se transformar num país de economia sólida. Se o presidente ou o ministro da Fazenda brincarem com a economia porque vai ter eleição, vai jogar fora uma oportunidade como tantas vezes foi jogada fora no Brasil."

Lula deu a entrevista no Hotel Waldorf Astoria, onde participou de café da manhã com executivos de grandes empresas americanas que têm investimentos no Brasil. Ele disse aos investidores que as investigações sobre corrupção seguirão seu curso normal e não afetarão a economia.

Questionado pelos jornalistas se a "limpeza" do Congresso ajudaria o crescimento, ele foi taxativo: "Ajuda." Mas na quarta-feira à noite, quando soube da cassação do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), Lula vibrou. "Estou de alma lavada", desabafou, segundo relato de ministros.

Quando os repórteres perguntaram sobre a redução dos juros de 19,75% para 19,5%, após 17 meses sem queda, Lula mostrou mais otimismo. "Chegou o momento", disse, ao lembrar que já falava há tempos que os juros cairiam quando os responsáveis pela política econômica achassem mais conveniente. "O Brasil está num momento auspicioso: a economia está sólida, o emprego está crescendo, o PIB vai crescer e poderemos distribuir um pouco da riqueza para o povo", disse.

INVESTIDORES

Os investidores saíram aparentemente satisfeitos do café da manhã com Lula. Thomas McLarty, vice-presidente da consultoria Kissinger McLarty, disse que Lula se antecipou a possíveis perguntas sobre a crise. "Ele admitiu (o problema) e acho que todos gostaram do tom realista com que falou", disse. "Havia um sentimento de preocupação (com a crise), mas também um sentimento crescente de que as instituições estão fortes e de que ninguém quer descarrilar o progresso conseguido pelo Brasil."

O vice-presidente do Citibank, William R. Rhodes, que viveu muitas crises brasileiras nos anos 80 como presidente do comitê de bancos que renegociou a dívida externa, disse que "o encontro foi positivo".

Ele indicou que os investidores têm ouvido também figuras da oposição sobre o desdobramento da crise - o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso reuniu-se esta semana com executivos do Citibank. O próprio Rhodes conversou sobre a crise com o ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga, em recente seminário promovido pelo Banco Central americano.