Título: Esquerda busca frente no PT contra Campo Majoritário
Autor: Guilherme Evelin e Mariana Caetano
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/09/2005, Nacional, p. A10

A dois dias da realização das eleições internas no PT, os candidatos de oposição apostam no caráter plebiscitário de um provável segundo turno para superar as divergências entre si, construir uma coalizão contra o deputado Ricardo Berzoini (SP) na disputa pela presidência do partido e assim acabar com a hegemonia do Campo Majoritário, grupo que comanda os rumos petistas há dez anos. Um pacto de apoio mútuo entre os quatro principais candidatos de oposição - Valter Pomar, da Articulação de Esquerda, o deputado estadual Raul Pont (RS), da Democracia Socialista, a deputada federal Maria do Rosário (RS), do Movimento PT, e Plínio de Arruda Sampaio, da Ação Popular Socialista - corre riscos por causa das restrições de algumas tendências ao grupo de Plínio, qualificado como ultra-radical.

Suscitaram antipatias internas as ameaças de alguns dos principais apoiadores de Plínio, como os deputados federais Ivan Valente (SP) e Chico Alencar (RJ), de deixar o partido em caso de vitória do Campo Majoritário. Plínio levantou também resistências por ter declarado que não apoiará a reeleição de Lula, se não houver a negociação com o PT de um programa de governo com a mudança total da política econômica.

"A união é possível no segundo turno desde que haja um programa mínimo de defesa do governo Lula e do PT. Não podemos apoiar quem ameaça desertar o PT", diz Maria do Rosário, candidata do Movimento PT, a mais moderada das tendências de oposição e que tem no líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (SP), um de seus principais dirigentes. "Pessoalmente, não voto no Campo Majoritário. Mas, no Movimento PT, há muitas resistências ao Plínio". O candidato da Ação Popular Socialista, por sua vez, também não se comprometeu, até agora, com apoios no segundo turno.

Terceiro vice-presidente nacional do PT, Valter Pomar aposta, porém, que essas divergências serão superadas pela dinâmica do segundo turno. Ele ocorrerá, no dia 9 de outubro, caso nenhum candidato à presidência - nas instâncias nacional, estaduais ou municipais - consiga 50% dos votos mais um.

"A realidade e o apelo da base vão contornar as resistências na esquerda. No segundo turno, um candidato expressará o continuísmo, e o outro a renovação", diz Pomar. Ele se declara disposto a fazer campanha para qualquer candidato de oposição. "O segundo turno não será uma eleição, mas um plebiscito".

Raul Pont garante também o apoio irrestrito da Democracia Socialista e da Tendência Marxista - outra corrente que apóia sua candidatura - a um nome da oposição numa disputa contra Berzoini no segundo turno. "Nos debates nos Estados, é visível a perda de hegemonia do Campo Majoritário", afirma Pont.

Na avaliação dos candidatos de oposição, as disputas regionais contra o Campo Majoritário também contribuirão para a formação de uma coalizão contra Berzoini. O grupo dominante no PT controla os diretórios regionais em 24 Estados - as exceções são RS, SC e ES. A oposição aposta em conquistas, pelo menos, em PE, PA e SE. E ressalta que não disputará entre si nenhum Estado.