Título: Empregada viu sacolas de dinheiro na casa de Daniel
Autor: Fausto Macedo
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/09/2005, Nacional, p. A14

Três sacolas estufadas de dinheiro vivo, envoltas em um lençol na área de serviço do apartamento de Celso Daniel, indicam que o prefeito de Santo André - seqüestrado e morto a bala em janeiro de 2002 - "tinha pleno conhecimento e participava do esquema de arrecadação de recursos ilícitos para campanhas eleitorais do PT". A informação sobre a dinheirama foi prestada à Polícia e ao Ministério Público por uma ex-empregada de Celso Daniel. Ela disse ter encontrado as sacolas "cerca de oito meses antes" da morte do patrão.

Para os promotores de Justiça que rastreiam suposto esquema de corrupção na administração de Santo André, entre 1997 e 2001, o relato da testemunha reforça suspeita de que valores obtidos por meio de contratos fraudulentos foram canalizados para financiamento de campanha.

Celso Daniel levava uma vida simples, não existe um único depoimento na investigação que atribua a ele comportamento perdulário. "Isso é mesmo um indicativo de que o dinheiro não era destinado ao enriquecimento pessoal do prefeito", anotou o promotor Roberto Wider Filho, que integra força-tarefa do Ministério Público para decifrar o caso Santo André.

A empregada trabalhava, geralmente, 3 dias por semana em meio período para Celso Daniel, que morava em um apartamento no centro da cidade. Ela ganhava R$ 300. Contou ter encontrado o dinheiro em sacolas de plástico de um supermercado. De início, achou que Celso Daniel havia recolhido o lixo. "Quando removi o lençol qual não foi minha surpresa", declarou. "Eu me deparei com o dinheiro."

Eram notas de R$ 10, R$ 50 e R$ 100 em maços presos com elásticos. A testemunha, que tem seu nome mantido em sigilo, não faz idéia de quanto havia ali. "Os 3 sacos eram razoavelmente grandes", informou. "Estavam abarrotados de dinheiro, as notas brotavam para fora." Ela disse que cobriu novamente as sacolas com o lençol. Quando voltou ao serviço, dois dias depois, constatou que as notas não estavam mais.

"A investigação mostra que Celso Daniel tinha pleno conhecimento da corrupção", anotou o promotor Wider. "Ele foi eliminado porque se opôs ao esquema quando verificou que o dinheiro estava sendo direcionado para os integrantes da quadrilha e não mais para as campanhas eleitorais do seu partido."

Wider disse que a empregada foi ouvida agora porque o inquérito sobre o assassinato do prefeito foi reaberto. O promotor acredita que o grande volume de notas usadas de R$ 10 pode ter sido arrecadado do transporte coletivo, um dos redutos da propina.

O Ministério Público também ouviu um freqüentador do restaurante Baby Beef Jardim, em Santo André, que contou ter presenciado reuniões de Celso Daniel com o ex-vereador Klinger Sousa (PT) e os empresários Ronan Maria Pinto e Sérgio Gomes, suspeito de ter sido mandante da morte do prefeito. "O grupo tratava de negócios, muitas vezes eu os vi assinando documentos e contratos", contou a testemunha. "Ronan jamais se reuniu com Celso Daniel neste local", rebateu o empresário, por meio de sua assessoria. "São totalmente falsas as informações dessa testemunha, uma vez que Ronan jamais tratou ou lidou com dinheiro ou contratos de suas empresas em locais como esse."