Título: Risco cai ao menor nível em 8 anos
Autor: Renée Pereira
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/09/2005, Economia & Negócios, p. B1

O risco país caiu ontem 3,66% e atingiu 369 pontos, o nível mais baixo desde 22 de outubro de 1997. Trata-se do indicador que demonstra a confiança do investidor na capacidade de um país arcar com seus compromissos externos. Não faltaram motivos para justificar a euforia do mercado financeiro. Os bons fundamentos da economia, tão comentados nos últimos meses, com superávit primário recorde, investimento direto crescente e inflação baixa, ganharam reforço nesta semana com a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de reduzir em 0,25 ponto porcentual a taxa Selic, para 19,5% ao ano. Embora modesto, o corte criou um efeito psicológico positivo no mercado, pois significou o fim do aperto monetário e abriu o ciclo de queda dos juros, após o processo de alta iniciado há 12 meses. O mais importante é que a redução trouxe boas perspectivas ao crescimento da economia, que já vinha apresentando bons resultados, mesmo com juros altos, afirmou o economista sênior do BankBoston, Marcelo Cypriano.

Além disso, o fantasma da inflação, que provocou a alta da Selic, está cada vez mais distante. O Índice Geral de Preços - 10 (IGP-10), divulgado ontem, por exemplo, voltou a registrar queda de preços em setembro, de 0,69%. Foi a quarta redução consecutiva.

Para completar o quadro, o anúncio de que o Tesouro Nacional escolheu os bancos JP Morgan e Goldman Sachs para coordenar uma emissão de títulos soberanos em reais ampliou o otimismo e derrubou ainda mais o risco país. Se for bem-sucedida, a operação será uma excelente notícia para o País, afirmou o economista da Fator Corretora, Vladimir Caramaschi.

Segundo ele, o lançamento de papéis em moeda local representará o amadurecimento da economia brasileira e refletirá o aumento da confiança do investidor externo nos fundamentos da economia e na estabilidade da moeda. As condições dessa emissão, como taxas, prazos e montante, ainda não são conhecidas, mas várias especulações já surgem no mercado. Alguns operadores afirmam que a operação poderá ter prazo de até dez anos, com taxas de retorno entre 13,5% e 14%.

Caramaschi explica que se trata de uma forma de financiamento externo sem risco cambial e com prazos mais longos. A modalidade já foi experimentada por algumas empresas e bancos do País neste ano e encontrou boa receptividade no exterior. "Há uma demanda grande por esse tipo de papel no mercado internacional. Os investidores estão interessados nesse tipo de risco", disse o economista-chefe do Deutsche Bank, José Carlos Faria.

Por esse motivo, os economistas estão otimistas com o sucesso da operação. Para Cypriano, essa emissão só está sendo possível por causa dos bons números da economia brasileira, aliada à abundante liquidez do mercado externo. Nem mesmo a crise política do País diminuiu o apetite dos investidores.

Além dos títulos em reais, as empresas brasileiras têm conseguido fazer emissões em moeda estrangeira sem dificuldades, como foi o caso da Odebrecht e da Gerdau, cuja demanda foi bem maior que a oferta inicial. Esse aumento de fluxo de capital também tem contribuído para derrubar o dólar, que ontem caiu 1,37%, para R$ 2,296. A Bovespa fechou em alta de 1,09%, em 29.366 pontos.