Título: IGP-10 tem quarta deflação seguida
Autor: Alessandra Saraiva
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/09/2005, Economia & Negócios, p. B3

Pela quarta vez consecutiva, o Índice Geral de Preços - 10 (IGP-10) voltou a registrar queda de preços em setembro, de 0,69%. Em agosto, o mesmo índice havia sido de 0,52% negativo. Em maio, o indicador teve variação zero. Quedas expressivas nos preços dos alimentos no atacado, aliadas a reduções generalizadas no varejo, levaram à taxa negativa, anunciada ontem pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Com o resultado de setembro, esse é o ciclo mais intenso de deflação acumulada na história do IGP-10, criado em 1993.

O período de coleta de preços do índice vai de 11 de agosto a 10 de setembro. Por isso, o indicador ainda não sofreu o impacto do aumento nos preços da gasolina e do óleo diesel anunciados pela Petrobrás, em vigor desde o dia 10 desse mês - o último dia de captação do índice.

"Ter uma quinta deflação consecutiva no indicador em outubro eu acho mais difícil porque o próximo IGP-10 vai pegar o impacto pleno dos reajustes na gasolina e no diesel", avaliou o coordenador de Análises Econômicas da FGV, Salomão Quadros.

Mas o economista considerou que, no cenário atual, a inflação permanece sob controle e com perspectivas favoráveis. Nesse contexto, o coordenador comentou a decisão do Conselho de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) de reduzir a taxa básica de juros (selic) em 0,25 ponto porcentual, para 19,50%, esta semana. "Já estava mais que na hora", disse.

No IGP-10 de setembro, os preços do atacado caíram 0,91%, ante recuo de 0,78% em agosto. Houve deflações expressivas nos alimentos in natura, de 10,98%, e nos alimentos processados (1,81%), o que derrubou os preços dos produtos agrícolas - de 1,56% negativo para 3,02%, também negativos - de agosto para setembro.

"Atualmente, há melhor oferta de itens agrícolas, que estão sendo beneficiados por clima favorável, puxando para baixo os preços no atacado", explicou Salomão Quadros.

Ele observou que o cenário não é o mesmo para os produtos industriais no atacado (de -0,52% para -0,23%). Isso porque o impacto benéfico da valorização cambial na inflação, que puxou para baixo os preços de vários itens industriais relacionados ao dólar, tem perdido a força.

"Não estou querendo dizer que agora o câmbio não tem influência nenhuma. É claro que há ainda alguma coisa de câmbio na inflação. Mas o que puxa mesmo o processo de deflação são fatores setoriais", afirmou, lembrando a atual boa oferta de alimentos.

No varejo, os preços caíram 0,36% no indicador de setembro, ante 0,07% em agosto. Foi a deflação mais intensa nos preços ao consumidor desde setembro de 1998.