Título: Governo lançará títulos em real
Autor: Adriana Fernandes
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/09/2005, Economia & Negócios, p. B4

Com o risco Brasil em queda, abaixo de 400 pontos, o governo deu ontem o primeiro passo para o lançamento no mercado internacional de títulos da dívida externa brasileira atrelados ao real. Em comunicado oficial, divulgado na abertura dos mercados, o Tesouro Nacional anunciou que escolheu os bancos JP Morgan e Goldman Sachs para coordenar a operação, a primeira em que o Brasil oferecerá aos investidores estrangeiros um papel com rendimento vinculado à moeda nacional. A oferta brasileira é vista pelo governo e pelo mercado como um importante teste para medir a confiança dos investidores no futuro da economia, apesar da crise política que abala o País há quatro meses. A expectativa dos analistas é a de que nessa primeira emissão o Tesouro faça uma oferta de um lote pequeno de títulos, em torno de US$ 500 milhões.

O secretário-adjunto do Tesouro Nacional, José Antonio Gragnani, disse ao Estado que o valor do lançamento ainda não está definido. Segundo ele, o comunicado teve o objetivo de dar mais transparência e preparar os investidores para a operação. "Como é uma operação nova, que exige novas análises por parte dos investidores, achamos por bem divulgar os nomes dos bancos que receberam o mandato para fazer a emissão." Nas emissões tradicionais, atreladas ao dólar ou euro, essa prática não ocorre.

Segundo Gragnani, a demanda internacional pelos papéis brasileiros é "boa" e não há risco de a operação pressionar os preços dos outros papéis da dívida externa brasileira, como se especulava ontem no mercado. "Essa é uma primeira emissão em reais. Não é algo que vai mudar radicalmente a composição da dívida externa." Segundo o secretário, há uma procura de papéis diferentes por investidores interessados em diversificar suas carteiras.

A data da operação não foi divulgada, mas Gragnani informou que é "para breve". Na sexta-feira passada, o Tesouro já havia anunciado a intenção de fazer o lançamento. O Brasil tem interesse nesse tipo de operação, porque reduz o risco cambial da dívida externa, já que numa emissão em moeda local o risco passa ser atrelado às condições da economia nacional. Uma operação do governo também servirá de referência (benchmark) na fixação de custos ou prazos para lançamentos semelhantes de empresas brasileiras.

No fim do ano passado, os bancos Votorantim e Banco do Brasil fizeram as primeiras captações externas em reais. Apesar dos lançamentos bem-sucedidos, analistas observaram que faltava uma captação soberana (do governo) para balizar outras iniciativas privadas.

Nos últimos meses, com a alta liquidez no mercado internacional, o Brasil tem tido uma postura agressiva na administração da dívida externa. Além de ter concluído na metade do ano o cronograma de captações de 2005, o Tesouro já partiu para novas emissões que financiarão pagamentos da dívida em 2006. Na semana passada, o governo anunciou que comprará em outubro US$ 1,2 bilhão em C-Bonds que ainda estão no mercado financeiro e a captação de US$ 1 bilhão por meio de bônus com vencimento em 2025.