Título: Custo menor dará fôlego à agricultura
Autor: Fabíola Salvador
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/09/2005, Economia & Negócios, p. B20

Fabíola Salvador Depois da grave crise que atingiu a agricultura neste ano, o ministro Roberto Rodrigues prevê ventos favoráveis ao setor em 2006, principalmente para os produtores de arroz, soja, algodão, milho e trigo, que tiveram sérios problemas de perda de renda e dificuldades para comercializar a safra. "Não sei se os preços internacionais vão melhorar muito, mas os custos de produção vão diminuir. Nós estamos comprando insumos neste ano a um dólar diferente do que compramos no ano passado", disse ele, que é produtor rural. A demanda por insumos também caiu muito, o que reduz os preços, completou. Dados apresentados ao governo pela iniciativa privada mostram queda de 40% no consumo de calcário, 12% no de fertilizantes e 20% no de defensivos para a safra 2005/06, na comparação com o período anterior. Apesar de considerar a venda de sementes menos importante no contexto de crise - o raciocínio é que os produtores têm sementes estocadas e não precisarão comprá-las -, o ministro também está de olho nas informações do setor sementeiro. As empresas estimam, segundo ele, queda de 10% nas vendas. "No caso dos insumos, a situação é mais grave. Há uma certeza de menor uso de tecnologia e uma hipótese de redução na área plantada, que pode ficar, segundo o setor de insumos, entre 2% e 3%", disse.

Ele acrescentou que poderá haver uma migração de culturas. Números do Banco do Brasil mostram que os produtores que mais pagaram seus débitos de custeio foram os de milho, seguidos pelos de arroz, soja e, por último, algodão. "Isso dá uma indicação de que pode haver uma migração da produção de algodão, que enfrenta preços baixos no mercado internacional, para milho", disse.

Troca de culturas e recuo nas vendas de sementes e fertilizantes indicam, na avaliação do ministro, uma possível redução de produtividade e de produção na safra 2005/06. O clima será peça fundamental nesse jogo. "O clima poderá afetar a colheita de uma safra cultivada sem tecnologia. Se o volume de chuvas for normal, o padrão tecnológico não afeta muito a produtividade, porque a terra está bem tratada, depois de quatro ou cinco anos de bom faturamento dos produtores."

Diante dessas informações, o ministro arriscou prever que a nova safra, com clima razoável, ficará numa posição intermediária entre os números de referência da safra passada: as 112 milhões de toneladas colhidas e a estimativa inicial, que previa 132 milhões de toneladas. "A safra será de algo próximo a 120 milhões de toneladas", apostou. Ele descartou previsões da iniciativa privada, que indicam produção inferior a 100 milhões de toneladas.