Título: Presos 44 da máfia de Cumbica
Autor: Marcelo Godoy
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/09/2005, Metrópole, p. C1

Um grupo de agentes da Polícia Federal (PF) e da Receita era o elo entre quadrilhas de contrabandistas e de bandidos que enviavam brasileiros ilegalmente para os Estados Unidos e Espanha. A descoberta levou à prisão 44 pessoas acusadas de participar das organizações criminosas, entre elas 7 policiais e 1 funcionário administrativo da PF, além de 2 fiscais da alfândega do Aeroporto de Cumbica, em Guarulhos, onde o esquema era investigado desde 2003.

Ao todo, foram expedidos 128 mandados de busca e 68 de prisão nas Operações Overbox (contrabando) e Canaã (emigração ilegal). 'Fizemos as duas ao mesmo tempo, pois elas envolviam as mesmas pessoas', disse o superintendente da PF em São Paulo, delegado José Ivan Guimarães Lobato, referindose aos agentes e fiscais.

De acordo com a PF e o Ministério Público Federal, os presos são suspeitos de formação de quadrilha, uso de documento falso, falsificação de documento, corrupção ativa e passiva, contrabando e facilitação de contrabando.

As investigações começaram após denúncias feitas pela embaixada americana - um adido policial dos Estados Unidos e outro da Espanha acompanharam a operação. Ainda de madrugada, 600 policiais começaram a vasculhar endereços em São Paulo, Minas, Espírito Santo e Paraná. 'É mais um duro golpe no crime organizado', disse o delegado.

Em poucas horas, os agentes detiveram 36 pessoas em São Paulo (na capital, em Campinas, Guarulhos e São Bernardo do Campo) e 8 em Minas (Veja ao lado). Além dos agentes públicos, foram presos agenciadores de emigrantes ilegais, funcionários de companhias aéreas que ajudavam as quadrilhas, contrabandistas e três falsários peruanos.

PASSAPORTES

Na operação, agentes apreenderam computadores e passaportes brasileiros falsos. Acharam também passaportes espanhóis roubados que estavam sendo falsificados - em 2004, ladrões levaram mais de mil documentos do novo modelo (à prova de fraude) do Consulado Geral da Espanha em São Paulo.

Segundo o adido policial espanhol José Luis Borges Fernandes, essa é a primeira vez no mundo que se falsifica o documento, que existe há dois anos.

A falsificação desses documentos faria parte do esquema que enviava brasileiros e bolivianos aos Estados Unidos como imigrantes ilegais. Os brasileiros usavam também passaportes brasileiros falsos ou com vistos falsificados e seguiam para o México ou diretamente para os Estados Unidos.

Um foragido da Justiça, por exemplo, pagou US$ 10 mil pelo 'kit coiote': passagem aérea, estadia, passaporte falso e traslado até os EUA. O kit podia chegar a US$ 15 mil. No caso dos passaportes espanhóis, a PF apura se serviam para o envio de mulheres que trabalhariam como prostitutas naquele país.

Já no contrabando, os funcionários da Receita e da PF recebiam R$ 800,00 para liberar cada mala que chegava do esquema. Tratava-se de dois bandos, um com base na China e outro em Miami. Cada mula (gente que recebe para transportar produto ilegal) do esquema recebia até US$ 500,00 para trazer bagagens com laptops e outros aparelhos eletrônicos no esquema conhecido como 'formiguinha'.