Título: Terrorista chamou xiitas para perto do carro-bomba
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Fonte: O Estado de São Paulo, 15/09/2005, Internacional, p. A19

Estavam reunidos como costumavam fazer numa praça de Bagdá, fugindo da miséria da região Sul do país, dispostos a aceitar qualquer trabalho quando foram pegos pela morte num atentado suicida na manhã de ontem. "Faço minha mala e volto imediatamente", disse tomado de pânico um desses sulistas, sem qualificação profissional, que olhava os restos fumegantes do atentado na praça Uruba no bairro xiita de Kazamya. Pessoas presentes no local, que está cercado de forças de segurança, disseram que dezenas de trabalhadores rodeavam o carro do homem-bomba que se fez passar por um empreiteiro dizendo que estava querendo recrutar pessoas para trabalhar por um dia.

Ali Kamel, de 37 anos, chegou há três dias de Kut, a 175 quilômetros de Bagdá. Como muitos, veio em busca de trabalho, algo impossível de ser encontrado na sua região, assolada pelo desemprego. "Estava no meu hotel quando ouvi uma forte explosão e corri para cá", contou o pai de família. "Vi dezenas de corpos lançados ao solo e dezenas de feridos gritando de dor", disse o homem tremendo, sem conseguir se controlar.

Falah Abdallah veio de Nasiriya, a 375 quilômetros ao sul de Bagdá, juntamente com seis de seus irmãos, dois dos quais estão desaparecidos. "Não sei se estão mortos ou feridos", disse ele, observando os socorristas que recolhiam restos humanos para colocá-los dentro de sacos de plástico.

"Estávamos todos reunidos na praça e começamos a correr feito loucos em todas as direções", contou ele.

De acordo com uma fonte do ministério do Interior "o suicida, que dirigia um Opel, investiu contra os trabalhadores reunidos numa praça do bairro por volta das sete da manhã.

Uma testemunha tinha outra versão. Disse que o veículos estava parado no momento da explosão. O que ninguém discute é que a maioria desses operários mortos eram pobres que vieram de províncias xiitas do sul em busca de trabalho.