Título: Al-Qaeda mata 160 em ataques no Iraque e declara 'guerra total' a xiitas
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Fonte: O Estado de São Paulo, 15/09/2005, Internacional, p. A19

Pelo menos 160 pessoas morreram ontem no Iraque numa série de 12 atentados, quase todos em Bagdá. Foi o dia em que se registrou o segundo maior número de mortes por ataques desde o começo da guerra, em 2003. Em meio aos ataques, o líder da rede terrorista Al-Qaeda no Iraque, Abu Musab al-Zarqawi, anunciou uma "guerra total aos xiitas" e assumiu a responsabilidade pelos atentados, em vingança à ofensiva militar iniciada na semana passada contra rebeldes sunitas em Tal Afar, perto da fronteira com a Síria. A mensagem foi divulgada por um site árabe da internet e sua autenticidade não foi confirmada imediatamente. "A Organização da Al-Qaeda para a Guerra Santa na Mesopotâmia proclama a guerra total contra os rafidha (termo pejorativo para designar os xiitas), onde quer que se encontrem no Iraque", disse o comunicado. "Sunitas, despertem! A guerra de extermínio contra nosso povo continuará."

Na mensagem, Zarqawi adverte que todos os grupos religiosos e tribos que não se juntarem ao combate contra os xiitas e não condenarem o governo do primeiro-ministro Ibrahim al-Jaafari "sofrerão o mesmo destino dos cruzados (como os rebeldes se referem às forças de ocupação) e seus colaboradores".

Os sunitas eram predominantes no governo do deposto ditador Saddam Hussein, apesar de a ampla maioria da população iraquiana ser formada por xiitas. Desde os primeiros meses da ocupação, os grupos insurgente sunitas tentam fomentar a guerra entre as duas maiores facções do Islã como estratégia para promover o caos e impedir que as forças estrangeiras consigam estabilizar o país.

No mais violento dos ataques de ontem, um carro-bomba detonado por um suicida matou 114 pessoas e feriu mais de 160 em Kadimiya, bairro de Bagdá, segundo números do Ministério da Saúde. De acordo com testemunhas, o suicida parou uma van perto de um local onde costuma concentrar-se uma multidão de operários da construção civil em busca de trabalho. Atraídos por uma promessa de emprego, centenas de operários cercaram o veículo, que carregava mais de 250 quilos de explosivos.

Foi o segundo atentado com mais vítimas do pós-guerra iraquiano. Desde 2 de março do ano passado, quando uma série de ataques matou 181 pessoas em santuários xiitas de Bagdá e Kerbala, não se registravam tantas mortes em um único dia no Iraque. Em fevereiro deste ano, 125 civis foram mortos em um ataque com carro-bomba em Hila.

Outros 11 ataques se espalharam pela capital iraquiana e seus arredores. Seis tiveram como alvo comboios militares dos EUA, atacados com granadas de morteiro ou bombas colocadas à beira de estradas, mas nenhum soldado americano ficou ferido, segundo o comando da força multinacional.

Em outros três atentados, os rebeldes usaram carros-bomba. Horas antes do atentado em Kadimiya, homens armados e com uniformes militares assassinaram a tiros 17 membros da tribo tamim em Taji, distrito da região metropolitana de Bagdá.

Em visita a Detroit, nos EUA, Jaafari condenou os ataques e prometeu punição aos culpados.