Título: 'Não é preciso ter a mesma opinião de Bush em tudo'
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Fonte: O Estado de São Paulo, 15/09/2005, Internacional, p. A21

O especialista em política externa do partido Democratas Livres (de oposição), Wolfang Gerhardt, poderá se tornar o novo ministro das Relações Exteriores da Alemanha. Nesta entrevista, ele fala sobre o futuro da ONU, da União Européia e das relações com Washington. Como o sr. vai melhorar as relações transatlânticas se agora critica a estratégia dos EUA para o Irã?

Não é preciso ter a mesma opinião do governo Bush em todas as questões. Mas possíveis divergências deverão ser resolvidas de modo mais claro e mais rápido do que como o governo de Schroeder tem atuado.

A proposta da expansão do Conselho de Segurança da ONU para incluir um lugar permanente para a Alemanha parece ter falhado. Se houver mudança de governo nestas eleições, o sr. tentará outra vez?

Precisamos de uma nova tentativa para reformular toda a ONU. O governo de Schroeder pôs a carroça na frente dos bois, porque fala só no Conselho de Segurança. Primeiro, temos de tentar melhorar a capacidade da ONU de garantir a paz e proteger os direitos humanos. O prestígio político deve vir por último.

Ainda há chance de uma cadeira permanente para a Alemanha?

Sempre vislumbrei um assento europeu. Para tanto, a Carta da ONU deve ser alterada, de forma que organizações como a UE possam ter um assento.

Franceses e holandeses rejeitaram, em plebiscito, a Constituição da UE. Ela está fadada ao fracasso?

Uma Constituição mais simplificada teria sido mais fácil de aceitar. Muita coisa poderia ter sido resolvida apenas implantando leis. Um novo esboço deve se ater aos fundamentos: a questão do compartilhamento do poder, os direitos básicos e a política externa comum. A Europa precisa de uma Constituição, não de uma enciclopédia que trate de todas as minúcias.

Será que é necessária uma nova conferência de cúpula?

Uma breve conferência com os governos da UE seria suficiente. O mais importante é escolher o momento certo para pôr o projeto em votação de novo. Uma segunda tentativa só terá chance se os povos não estiverem passando por alto desemprego e baixo crescimento.

Isso significaria abandonar o atual processo de ratificação?

Ninguém precisa se precipitar só porque a Alemanha terá um novo governo na próxima conferência de cúpula. As considerações sobre um possível avanço poderão vir durante a presidência austríaca da UE, em 2006.