Título: Dinheiro foi para filho de Severino, diz secretária
Autor: Vannildo Mendes
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/09/2005, Nacional, p. A6

A secretária do presidente da Câmara, deputado Severino Cavalcante (PP-PE), Gabriela Kênia Martins, afirmou ontem à Polícia Federal que os R$ 7,5 mil sacados da conta do empresário Sebastião Buani foram destinados à campanha eleitoral do filho do parlamentar, Severino Cavalcanti Júnior, já falecido. No depoimento de sexta-feira, negou que tivesse recebido qualquer valor de Buani. A PF considerou o segundo depoimento tão mentiroso quanto o primeiro e estuda indiciar a secretária como cúmplice de Severino no inquérito do mensalinho. Vai também pedir a quebra do sigilo bancário, fiscal e telefônico de Severino para saber se o dinheiro do cheque e outras verbas sem origem comprovada entraram em suas contas. Segundo Kênia, o dinheiro foi uma doação de campanha feita por fora da contabilidade oficial, ou caixa dois.

Com o cheque, a Procuradoria-Geral da República determinou ontem que o inquérito seja remetido ao Supremo Tribunal Federal (STF) porque, como parlamentar, Severino tem direito a foro privilegiado. Em face das provas já colhidas, Severino passa a ser investigado por corrupção passiva, concussão (extorsão praticada por servidor público) e improbidade administrativa. Além da possível cassação por quebra de decoro, ele está sujeito a penas de até 12 anos de prisão.

A chegada de Kênia à PF, às 15 horas, numa Blazer azul, causou tumulto por cerca de 20 minutos, porque ela insistia em entrar pelo portão privativo do subsolo. Kênia foi depor acompanhada pelo marido, Cláudio Martins, por seu advogado José Eduardo Alckmin, o mesmo que defende Severino, e pelo chefe da Assessoria Jurídica da Câmara, Marcos Vasconcelos.

Vasconcelos tentou dar uma carteirada, alegando ser autoridade do Legislativo, mas o grupo foi barrado pelo delegado que preside o inquérito, Sérgio Menezes, e entrou pela portaria principal, onde a secretária foi abordada por um batalhão de repórteres e cinegrafistas. Nervosa, não deu declarações.

No depoimento, Kênia confessou que a assinatura aposta no verso do cheque era sua. Contou que descontou R$ 690,00 do valor e entregou o restante, R$ 6.890,00, a Severino Júnior.

Candidato a deputado federal em 2002, o fio de Severino morreu num acidente de carro em agosto, dois meses antes das eleições. O depoimento de Kênia foi acompanhado pelo procurador da República Alexandre Spinosa.

A cópia microfilmada do cheque que Buani entregou ontem é a prova mais contundente que a PF esperava para instruir o inquérito em que Severino é acusado de receber propinas, em 2002 e 2003, quando era 1. secretário da Câmara, para prorrogar por três anos o contrato do restaurante explorado por Buani. A PF recebe hoje do Instituto Nacional de Criminalística (INC) o resultado da perícia do documento em que Severino prorroga a concessão.