Título: Governistas e oposição já articulam alternativas
Autor: Lisandra Paraguassú
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/09/2005, Nacional, p. A7

Bastou que o empresário Sebastião Buani apresentasse um cheque nominal dado à secretária particular do presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), para que todos os partidos, inclusive o PP, começassem a articular a sua saída do cargo. Líderes aliados e de oposição ao Palácio do Planalto cobraram, em coro, o seu rápido afastamento da presidência; os governistas aderiram à representação ao Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara contra Severino. Embora unidos no discurso, governo e oposição trabalharam ontem estratégias diversas para apear Severino do poder.

Líderes do PFL e PSDB confessaram ontem que a renúncia de Severino era uma boa solução, mas não a única nem a melhor. Tucanos e pefelistas preferem um pedido de licença temporária de Severino, o que entregaria o comando da Câmara ao primeiro vice, José Thomaz Nonô (PFL-AL).

"O afastamento é um direito previsto no regimento interno e que permite a rápida volta à normalidade, porque já temos um presidente pronto", disse o líder da oposição, José Carlos Aleluia (PFL-BA), referindo-se a Nonô: "Enquanto ele (Severino) se defende, a Câmara volta a trabalhar. Mas se ele preferir renunciar, tudo bem".

Líderes de partidos aliados do governo pediam a renúncia: "Afastamento, a essa altura, é golpe", resumiu o vice-líder do governo, Beto Albuquerque (PSB-ES). Embora convencidos da tese - o melhor caminho para o governo é apresentar um nome da base com bom trânsito na oposição -, os governistas não conseguem se entender quanto à sucessão de Severino.

Não bastasse a fartura de candidatos no PT - onde são lembrados os deputados Sigmaringa Seixas (DF), Paulo Delgado (MG), Arlindo Chinaglia (SP) e José Eduardo Cardozo (SP) -, já começa a disputa nos outros partidos da base. "Eu apresentarei meu nome como alternativa. A discussão de tem que ser feita dentro da maioria governista, e não de partidos", disse Beto Albuquerque.

Amigos de Severino consideravam ontem a hipótese de ele, "teimoso como é', decidir enfrentar o processo de cassação. Como ele não deixou a residência oficial ontem, vários correligionários foram visitá-lo à tarde e saíram da conversa convencidos de que Severino está disposto a resistir no cargo.

A apresentação do cheque dado à secretária de Severino deixou tontos os dirigentes do PP. "Fiquei perdido que nem cego em tiroteio", desabafou o líder José Janene (PR). Segunda-feira à noite Severino assegurou às duas dezenas de pepistas que o visitaram: não haveria documento contra ele.

"Fomos pegos de surpresa", confidenciou o presidente do PP, deputado Pedro Corrêa (PE). "Estou arrasado", lamentou Benedito de Lira (PP-AL). "Envelheci dez anos hoje", emendou o deputado Mário Negromonte (PP-BA), um dos que antes tinha sugerido Severino que se afastasse do cargo durante as investigações.

Nos últimos dias, parceiros de Severino insistiam em apresentar outra estratégiapara o cheque de R$ 7.500. Eles queriam sustentar que Buani é "um conhecido agiota" e que o cheque entregue à secretária era um empréstimo pessoal.