Título: Defesa de 42 minutos rende aplausos e choro
Autor: João Domingos
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/09/2005, Nacional, p. A8

Visivelmente emocionado, o deputado Roberto Jefferson subiu à tribuna da Câmara para defender o seu mandato no difícil papel de advogado de si mesmo. Em 42 minutos, ele se esforçou para não chorar e revelou o ódio de quem guarda os rancores no freezer. Ali, da tribuna, bateu nos velhos desafetos, principalmente no ex-chefe da Casa Civil, José Dirceu. Embora não tenha feito nenhuma denúncia nova, pela primeira vez, bateu pesado no presidente Lula, arrancou aplausos das galerias e do próprio plenário. 'O rei está nu. Se tiver que sair, saio com a cabeça erguida.

Tirei a roupa do rei e mostrei ao Brasil quem são os fariseus, o que é o governo Lula e o Campo Majoritário.' Foi o último ato de quem saiu da condição de acusado para acusador, o que tornava a própria defesa complexa. 'Foi a defesa mais difícil da minha vida. É muito mais fácil defender os outros do que a si mesmo', disse, ao deixar o plenário. Jefferson jogou o tempo todo para as galerias na tentativa de influenciar os deputados.

A tese era simples: os ecos acabariam levando a pensar duas vezes antes de votar pela cassação dele. Conseguiu. Arrancou aplausos, fez o presidente da sessão, José Thomaz Nonô, ameaçar chamar a segurança para conter os exaltados e ainda recebeu apoios escancarados dos seus colegas de partido. Fez até a deputada Laura Carneiro (RJ), do PFL, chorar quando teve seu nome citado.

O discurso de Jefferson serviu para colocar a bancada do PT para baixo. Acuados, os petistas torciam para que o deputado abreviasse o discurso.

Que nada. Ele parecia fazer o pronunciamento de sua vida e usou o maior espaço de tempo possível para tentar convencer os parlamentares de que melhor do que cassá-lo seria direcionar a investigação sobre o mensalão para o outro lado da Praça dos Três Poderes, onde está localizado o Palácio do Planalto.

'Temos que atravessar a praça e ir ao Planalto fazer a investigação. O parlamento não pode sair de joelhos', afirmou. Jefferson não arrancou gargalhadas fartas como nas vezes anteriores. O clima foi pesado. O único momento de deboche foi quando se referiu ao relator do processo de sua cassação, deputado Jairo Carneiro (PFL-BA).

Ele relembrou uma história em que Carneiro, então chefe do Gabinete Civil na Bahia, contratou de uma vez 16 mil pessoas, inclusive a prima da dona Carmem, uma cabo eleitoral.

Na tribuna, ele lembrou mais das mulheres, dos parentes e não esqueceu de dois desafetos permanentes: o ex-ministro José Dirceu e o jornal OGlo- bo.

E ainda provocou dúvidas no momento em que o deputado Nonô foi aplaudido pelo simples gesto de conceder-lhe mais tempo. Era um sinal de que a cassação de seu mandato encontraria alguma resistência.