Título: 'Lula é malandro, preguiçoso. Não gosta de governar'
Autor: João Domingos
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/09/2005, Nacional, p. A9

Já certo da cassação, o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) usou o discurso de defesa, que precedeu a votação da perda de seu mandato, para o derradeiro ataque. Acusou o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de ser o "mais corrupto" de que teve conhecimento em 23 anos de mandato e investiu mais uma vez contra o PT. Disse que o partido do presidente não tem projeto de governo e é dominado por "fariseus" e "traidores", entre outros qualificativos. E afirmou que, ao denunciar o esquema do mensalão, "tirou a roupa do rei". Jefferson falou durante 41 minutos, quando tinha direito a 25. Foi aplaudido várias vezes, tanto por parlamentares contrários à sua cassação, quanto por uma claque de cerca de 30 pessoas que viu o pronunciamento das galerias da Câmara - um grupo que utilizava camisetas com os dizeres "Eu acredito em Roberto Jefferson".

Na sua defesa, o ex-presidente do PTB bateu duro no presidente. "Meu conceito do presidente Lula é que ele é malandro, preguiçoso. Não sei se já chegou da Guatemala. O negócio dele, ó, é passear de avião. Governar que é bom ele não gosta."

Para o petebista, Lula delegou o poder para uma cúpula que, na sua visão, só atrapalha. "Essa cúpula esconderam debaixo da saia da chefe da Casa Civil, do (Luiz) Gushiken (ex-ministro da Comunicação de governo). O Zé Dirceu já mandaram para cá, e essa cúpula desonrou a confiança que lhe foi depositada pelo presidente Lula. Se ele não praticou o crime por ação, pelo menos por omissão." Chamou a cúpula do PT de rato magro. "Rato magro, hein? Quem nunca comeu mel quando come se lambuza. Rato magro. PC Farias é aprendiz de feiticeiro ante essa gente que assaltou o Brasil! Rato magro!", gritou.

Também acusou o PT de ser o partido da cizânia. "Essa gente não tem afeto. Essa gente não tem amor. Essa gente não ama o ser humano, eles amam a abstração jurídica, um Estado ideal que eles sonham. Odeiam todo ser humano que se conflita com esse ideal de Estado que eles nutrem no seu coração e embalam."

Jefferson disse que os petistas e o governo agem como se estivessem num prostíbulo. "Rufiões da Pátria, proxenetas do Parlamento. (O presidente) escolheu o ministro José Dirceu como uma espécie de Jeany Mary Corner (a cafetina citada nos escândalos do mensalão), o rufião do Planalto, para alugar prostitutas, algo que ele entendia poder fazer na Câmara dos Deputados. Tratou esta Casa como se fôssemos um prostíbulo." Segundo ele, as conversas com Dirceu sempre tinham esse sentido. "As conversas com ele sempre começavam nesse nível, as festas, para depois ficar na ante-sala do presidente, do jeito que ele queria conduzir, de maneira anti-republicana."

GUERRA

Em sua defesa, Jefferson pediu a todos que tivessem cuidado com o governo e com o PT. "Estamos numa guerra fratricida, sanguinária, entre nós, quando a corrupção está na praça do lado de lá. De lá partiu a corrupção. As ligações do senhor Marcos Valério são para o gabinete do presidente também: 111." Ele lembrou que na terça-feira a presidente do Banco Rural, Kátia Rabelo, contou na CPI dos Correios que foi levada por Marcos Valério três vezes à presença de Dirceu.

Nesse momento, de dentro do plenário, alguém gritou para ele: "Você assaltou muito mais." Jefferson reagiu imediatamente. "Mas eu nunca bati no peito para dizer que eu sou o paladino da ética e o campeão olímpico da moralidade." Às afirmativas do PT de que o governo não rouba nem deixa roubar, Jefferson atacou: "Onde está a ética, a moralidade? O PT não rouba e não deixa roubar. Ouvi isso da cúpula do partido: rouba, mas rouba sozinho. E rouba muito."

O relator do processo de cassação do mandato de Jefferson, Jairo Carneiro (PTB-BA), também foi atacado sem piedade. "Já que ele (Carneiro) é o campeão da ética, permito-me contar aqui certa passagem. Ele, numa só noite, deu uma canetada, quando chefe da Casa Civil do governo João Durval, e contratou 16 mil pessoas, entre elas a prima da d. Carmen, uma cabo eleitoral dele em Feira de Santana, na Bahia. Ele escreveu isso no papel, e o cara do Diário Oficial, que devia ser do PT, espírito de porco, publicou. Então, ele ficou conhecido na Bahia como o primo da d. Carmen", disse.

RESPOSTA: O diretor de redação e editor responsável do jornal 'O Globo', Rodolfo Fernandes, desmentiu ontem as acusações de Roberto Jefferson. Abaixo, a íntegra: "Nenhuma das três acusações do deputado a 'O Globo' é verdadeira. 1) O jornal não possui nenhum débito com o INSS, está em dia com suas contribuições. 2) Da mesma forma, é fantasiosa a sua versão de que o jornal fez matérias sobre ele baseado numa suposta dependência da publicidade do governo federal. A participação da verba oficial federal na carteira de anunciantes do jornal é de apenas 2,5%. 3) Por fim, as recorrentes afirmações do deputado quanto a débitos com o BNDES já foram cabalmente desmentidas, pelo próprio banco e pelas Organizações Globo, mas o pouco apreço de Jefferson pela verdade o faz repetir indefinidamente essa falsa informação. Não há nenhum débito da empresa com o BNDES. O fato de 'O Globo' ter produzido reportagens - nunca desmentidas - que desagradaram ao deputado não permite que ele se afaste da verdade dos fatos."