Título: Sucesso na TV garantiu seis mandatos
Autor: Christiane Samarco
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/09/2005, Nacional, p. A10

Deputado federal por seis mandatos consecutivos, Roberto Jefferson Monteiro Francisco, de 52 anos, ganhou notoriedade na virada dos anos 70 para os 80, por sua atuação como advogado no programa televisivo O Povo na TV, de perfil popularesco e que fazia muito sucesso junto à população mais pobre, entre desempregados e aposentados. Seu discurso moralista, repetido em quadros que relatavam casos de mau atendimento em órgãos públicos e em reportagens policiais, transformou-o numa personalidade e, na eleição de 1982, num dos deputados federais mais votados do Rio, pelo PTB, com expressiva votação - 84.638 sufrágios.

Foi com essas credenciais pessoais e profissionais que o advogado criminalista, nascido em Petrópolis, na região serrana do Rio, e formado pela Universidade Estácio de Sá, fez sua entrada na política nacional e desembarcou no Congresso Nacional em fevereiro de 1983.

Jefferson orgulha-se de ostentar o rótulo de trabalhista, embora sua atuação política e parlamentar pouco lembre o histórico PTB da fase pré-64, fortemente vinculado às grandes lideranças sindicais da época - muitos rotulados como 'pelegos' - e portador de um discurso de esquerda reformista, alinhando-se com as radicais reformas preconizadas pelo então presidente João Goulart.

FUNDADORES

Roberto Jefferson costuma citar o avô, Ibrahim, como um dos fundadores do PTB, em 1945, e o pai, Roberto Francisco, como um tradicional militante petebista, além de vereador. Toda essa 'tradição trabalhista' familiar, porém, não o impediu de, numa entrevista ao Estado, em 2004, defender a flexibilização das leis de trabalho.

Nascido em 14 de junho de 1953, Jefferson estudou no Colégio Werneck e tem três filhos de seu casamento com Ecila Brasil: Cristiane, vereadora na cidade do Rio de Janeiro; Roberto, assessor da prefeitura de Belém (PA); e Fabiana, casada com Marcus Vinicius Vasconcelos Ferreira, que foi investigado nos escândalos.

Alinhado com os conservadores, Jefferson foi vice-líder do PTB na Câmara entre 1983 e 1986, mas em 1984 votou a favor das eleições diretas. Reeleito em 1986, foi coordenador de plenário do Movimento do Centro Democrático, bloco conservador que atuou na Assembléia Nacional Constituinte e depois se notabilizou pelo apelido de Centrão, por suas posições antireformas sociais.

Foi relator, na Comissão de Constituição e Justiça, do projeto de lei sobre crimes hediondos que originou a Lei 8.072/90, que endureceu penas para criminosos. Mas foi no mandato seguinte que começou a ganhar projeção nacional como um dos líderes da 'tropa de choque' do governo de Fernando Collor, que tentou, sem sucesso, evitar o impeachment.

Ao longo dos últimos dez anos, aprofundou sua influência em órgãos federais, sobretudo no Rio. Apesar de ter sido sempre adversário do PT, foi justamente no governo do presidente Lula que ele ampliou o seu espaço político, chegando à direção do Instituto de Resseguros do Brasil (IRB). Já era, então, presidente nacional do PTB, posto que assumiu após a morte do deputado federal José Carlos Martinez (PTB-PR).

TROGLODITA

Jefferson já admitiu que, obeso e andando sempre armado, era 'um troglodita', perfil reforçado pela doação de R$ 50 mil divididos em duas parcelas de R$ 25 mil, feita pela empresa Forjas Taurus, fabricante de armas, à sua última campanha de deputado. Na época, pesava 170 quilos e tinha um estilo atrevido de fazer política, caracterizado por provocações que irritavam os adversários.

Submeteu-se a uma cirurgia de redução de estômago, perdeu peso e hoje até canta ópera, mas persiste com o jeito provocador, pontuado por frases de efeito, gírias inesperadas e esgares faciais.

Em 2002, depois de apoiar a candidatura de Ciro Gomes, no primeiro turno, Jefferson aderiu ao governo Lula, em troca de indicações para cargos públicos, até ser encurralado por denúncias de corrupção de indicados por ele e pelo PTB na administração pública.

Cobrou solidariedade do governo e mereceu, de Lula, além da qualificação de 'parceiro', a declaração engajada de que lhe daria 'um cheque assinado em branco'. Se Lula afagava, José Dirceu trabalhava por sua incriminação, como mencionou à época e repetiu ontem.

Numa entrevista-bomba, partiu para a guerra com o PT e o governo, denunciando a manipulação de gordas quantias para aliciar parlamentares.