Título: Para aliados e oposição, está aberta temporada de degola na Câmara
Autor: Christiane Samarco
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/09/2005, Nacional, p. A10

Líderes da base aliada e de oposição ao Palácio do Planalto não têm dúvidas. Todos apostam que a cassação do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) aponta a tendência de degola da maioria dos 18 deputados implicados nas denúncias do mensalão. 'Abriu a porteira. Quem não quiser ser cassado, que renuncie antes da abertura do processo no Conselho de Ética', resumiu o vice-presidente nacional do PTB, deputado Luiz Antonio Fleury Filho (SP). O presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC), especificou sua previsão: 'O resultado leva à conclusão de que a cassação do deputado José Dirceu terá um resultado muito mais expressivo.' 'Nós vamos dormir entristecidos e os deputados acusados vão dormir preocupados', concordou o líder do PTB, José Múcio Monteiro (PE).

Só os petebistas lamentaram o resultado que foi atribuído à presença maciça de parlamentares - 489 dos 513 deputados - na sessão de cassação. 'Só me lembro de um quorum tão alto na cassação do presidente Fernando Collor', recordou o líder José Múcio.

Somados os votos nulos, brancos e as abstenções aos votos contrários ao relatório prócassação, Jefferson obteve o apoio de exatos 176 deputados. 'Imaginávamos que esse número seria suficiente para impedir que o relator reunisse os 257 votos necessários para aprovar seu relatório', insistiu Múcio.

'Foi uma decisão em defesa do Parlamento', avaliou o líder do PFL na Câmara, deputado Rodrigo Maia (RJ), certo de que todos os envolvidos em denúncias de um esquema irregular de recursos fora do período eleitoral terão muita dificuldade de defesa. 'A Câmara tem um dever para com o País, que é o de limpar sua imagem e o importante neste momento é dar uma resposta à sociedade', completou o deputado ACM Neto (PFL-BA).

Na mesma linha, o relator Jairo Carneiro (PFL-BA) considerou o resultado uma 'posição importante do Legislativo para a retomada do prestígio e da credibilidade diante da sociedade'. Para o líder petebista José Múcio, no entanto, a torcida da sociedade era para que o mandato de Jefferson fosse poupado.

Ele lembra que seu partido já vinha adotando uma postura de independência em relação ao governo e que o processo de cassação de Jefferson, 'em que o Planalto jogou duro o tempo todo', pode deixar seqüelas.

'O governo já perdeu apoios e não tem mais base de sustentação política', emendou o líder tucano Alberto Goldman (SP), ao destacar que o tempo do trator sobre a oposição já vai longe. 'Mas poderão contar com a boa vontade da oposição para aprovar projetos de interesse do País', amenizou. Goldman avalia que os deputados não foram eleitos para fazer o papel de polícia nem tampouco de caçadores de mandato, mas prevê outras degolas nos próximos dias e adverte: 'Nosso papel é fazer a limpeza grossa. A limpeza fina quem vai fazer é a população, nas urnas'.

O deputado Roberto Freire (PE), presidente do PPS, avaliou que 'a Câmara está sabendo cumprir o seu papel'. Mas chamou atenção para as manobras jurídicas de outros deputados também envolvidos nos escândalos. 'Agora é preciso não paralisar o processo de cassação dos demais deputados envolvidos, beneficiados por uma liminar do STF que é uma interferência absolutamente indevida no Poder Legislativo'.

O deputado petista José Eduardo Cardoso (SP) considerou a cassação de Jefferson o início de um processo de restauração ética do Legislativo. 'A decisão foi justa e deve ter um efeito pedagógico para todos os agentes públicos'