Título: Críticas e réplicas, num debate de cabeças quentes
Autor: Sérgio Gobetti e Eugênia Lopes
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/09/2005, Nacional, p. A14

Em vários momentos de seu depoimento o ex-ministro exasperou-se com as perguntas e afirmações dos parlamentares, sugerindo sua participação no direcionamento das licitações de publicidade vencidas pelas agências de Duda Mendonça ou de Marcos Valério. Duda tinha o contrato principal com a Secretaria de Comunicação, dirigida por Gushiken, e Valério tinha os contratos dos Correios e do Banco do Brasil.

'Registro meu repúdio às insinuações suas de que houve jogo de cartas marcadas', respondeu ao relator, deputado O smar Serraglio (PMDB-PR), ao ser questionado sobre a licitação dos Correios, vencida pela SMPB, de Marcos Valério.

Sob comando de Gushiken, a Secom centralizou o processo de negociação com os veículos de comunicação e de controle das licitações de publicidade.

No caso dos Correios, um dos assessores indicados para a comissão que escolheu a SMPB (Marco Antônio Silva ) era marido da gerente de outra empresa de Marcos Valério (Telma dos Reis Mendes da Silva). 'Eu não sabia disso, mas ele se casou depois da licitação. A esposa dele trabalhava há muito tempo no mercado.

Se eu pudesse voltar atrás, diria para ele não casar', disse, com um leve sorriso. Quando o deputado Eduardo Paes (PSDB-RJ) acusou o governo, e não apenas o PT, de estar envolvido nos escândalos, Gushiken voltou a irritar-se. 'Eu repudio sua insinuação', disse, exaltado. 'E eu afirmo e reafirmo as ilações em relação ao governo', retrucou o tucano. 'O senhor Marcos Valério esteve no intestino desse governo.'

Gushiken treplicou: 'Mas o know-how (tecnologia) foi do seu partido' - uma referência à suposição de que o empresário mineiro teria montado um esquema de caixa 2 para a campanha do ex-governador mineiro e atual senador Eduardo Azeredo (PSDB), em 1998. O momento de maior tensão ocorreu depois que o deputado Onyx Lorenzoni (PFL-RS) disse que o ex-ministro 'organizou uma quadrilha no governo Lula' e baixou um decreto lhe dando 'poder ditatorial' sobre a publicidade governamental.

Em seguida, Lorenzoni enumerou contratos que teriam sido prorrogados e aditivados (valor aumentado) irregularmente, como o feito pelo Banco do Brasil com a DNA, agência de Valério. 'Senhor deputado, me espanta a leviandade com que o senhor trata da coisa pública, desrespeitando a minha pessoa e o governo. Se me acusa de formação de quadrilha, apresente as provas', desafiou, em voz alta, Gushiken.

O ex-ministro tentou a todo momento poupar o governo da crise, cuja responsabilidade atribuiu exclusivamente ao PT. 'O PT é maior do que sua direção. Tenho a convicção de que ele saberá superar essa crise.'