Título: Gushiken bate boca e nega poder sobre fundos
Autor: Sérgio Gobetti e Eugênia Lopes
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/09/2005, Nacional, p. A14

Em depoimento à CPI dos Correios, marcado por bate-bocas com a oposição, o ex-ministro Luiz Gushiken admitiu ontem que acompanhava 'com o maior interesse' os movimentos dos fundos de pensão na queda de braço com o Grupo Oportunity, do banqueiro Daniel Dantas, para o controle da Telemig e da Brasil Telecom, duas das maiores empresas de telefonia do País. Mas negou que influenciasse as decisões dos dirigentes desses fundos, como foi sugerido pelo ex-presidente do Conselho Deliberativo da Previ Henrique Pizolatto. 'Como homem de governo, tenho o maior interesse nisso, porque é o maior conflito societário na história do capitalismo brasileiro', disse Gushiken.

'Mas o Sérgio Rosa (presidente da Previ) nunca recorreu a mim para tomar decisão. Não vejo contradição da minha afirmação, de que não influenciava a direção dos fundos, com o fato de conversar com ele sobre o assunto, já que era meu amigo.' O ex-ministro confirmou que foi procurado no ano passado por Sérgio Rosa.

Foi no mesmo dia em que o Conselho Deliberativo da Previ se encontrava reunido no Rio, esperando explicações do presidente do fundo sobre a decisão de sair da Telemar para continuar no controle da Telemig.

A maioria do conselho era favorável à manutenção dos ativos da Telemar, considerados mais valiosos, enquanto a cúpula da Previ e Gushiken viam como estratégica a disputa com o Oportunity.

'O Rosa me procurou perguntando se havia uma decisão do governo sobre o caso da Brasil Telecom, e eu respondi que não. Então ele disse que continuaria na mesma linha', relatou o ex-ministro.

KROLL

Questionado sobre os motivos que levariam o Oportunity a ter contratado a Kroll para espionálo - se ele não era, como dizia, influente nos fundos -, Gushiken tergiversou: 'Minha relação com os dirigentes sindicais deve ter levado à impressão de que eu tinha influência.'

O ex-ministro não quis comentar o depoimento de Pizolatto, que sugeriu haver interesses políticos e financeiro-eleitorais no acordo que a Previ fechou com o Citigroup para comprar futuramente suas ações na Telemig a um valor 300% superior ao atual de mercado. 'Não quero entrar no mérito do depoimento desse cidadão.'