Título: Argentina retém calçados do País nas alfândegas
Autor: Ariel Palacios
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/09/2005, Economia & Negócios, p. B7

O governo do presidente Néstor Kirchner estabeleceu barreiras alfandegárias contra a entrada de calçados brasileiros. Desde terça-feira, dezenas de milhares de pares de sapatos e calçados esportivos estão parados nas alfândegas das fronteiras entre Argentina e Brasil. Com valor equivalente a US$ 3 milhões, estas remessas de calçados foram as primeiras vítimas da ameaça de Kirchner de aplicar restrições contra esse produto. O que impede a entrada dos calçados em território argentino são as licenças não-automáticas, que atrasam a liberação dos produtos nas alfândegas em até 60 dias, por causa de uma série de barreiras burocráticas que envolvem uma dúzia de repartições públicas. A demora desestimula os importadores, que desistem de aceitar novos pedidos de encomendas.

Desta forma, cumpre-se a ameaça de Kirchner de aplicar restrições aos calçados, atendendo a pedidos de empresários argentinos, que alegavam que os produtos brasileiros dominavam o mercado local. Como os empresários do setor dos dois países não saíram do impasse nas negociações, o governo decidiu aplicar as medidas restritivas.

Os argentinos, reunidos na Câmara Argentina do Calçado (CIC) pretendiam que a Abicalçados brasileira aceitasse uma 'auto-limitação' das vendas para o mercado local, para evitar o que denominavam de 'invasão' de calçados brasileiros.

A proposta argentina - de difícil aceitação pela Abicalçados - consistia em limitar as vendas brasileiras para apenas 10 milhões de pares anuais. Com isso, o governo argentino pretende que os calçados brasileiros não ultrapasse os 50% do mercado local. Os brasileiros queriam, para 2005, a cota 15,3 milhões de pares (o mesmo volume vendido em 2004).

O conflito dos calçados não está na pauta do encontro entre os presidentes Néstor Kirchner e Luiz Inácio Lula da Silva, sobre a ponte Tancredo Neves, entre a brasileira Foz de Iguaçu e a argentina Puerto Iguazú. O encontro, em 30 de novembro, pretende celebrar os 20 anos do encontro entre os presidentes José Sarney e Raúl Alfonsín, que deu o primeiro passo para a criação do Mercosul. Nessa data, comemorase o 'Dia da Amizade Brasileiro-Argentina'.

LENÇÓIS

Industriais têxteis argentinos estão preocupados com os rumores de que a brasileira Coteminas planeja instalar-se na província de Tierra del Fuego.

Segundo publicou o jornal Clarín ontem, o investimento da Coteminas seria de US$ 20 milhões, para instalação de uma fábrica de lençóis. Tierra del Fuego é uma ilha no extremo sul da Argentina, que desde os anos 70 é uma zona franca.

Os empresários temem que a Coteminas venha a colocar mais lenha no fogo da rivalidade entre fabricantes da zona franca e do resto da Argentina.

A 'invasão', desta vez, seria de produtos de Tierra del Fuego no mercado interno. Para os argentinos, a Coteminas, antes de se instalar na zona franca, teria de abrir uma fábrica no território continental argentino.