Título: Queda pode animar investidores
Autor: Fernando Dantas
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/09/2005, Economia & Negócios, p. B3

O efeito da redução de 0,25 ponto porcentual da taxa Selic, apesar de mínimo em termos de juros efetivos para empresários e consumidores no curto prazo, será bem mais que simbólico, na opinião de diversos economistas. A decisão de ontem deve dar segurança a investidores de que a trajetória futura dos juros é de queda, o que pode viabilizar projetos que anteriormente estavam pendentes. Embora a maior parte dos empresários deva considerar o corte tímido, e alguns analistas achem que o Banco Central (BC) foi muito além do razoável em termos de aperto monetário, o primeiro corte da Selic desde abril de 2004 deve representar, no mínimo, um alívio e, nesse sentido, terá efeito um positivo na atividade econômica.

"A economia nunca esteve num momento tão bom em termos de inflação, de crescimento e da área externa; a decisão vai corroborar esse sentimento e as expectativas positivas", disse Beni Parnes, diretor do Banco BBM, no Rio, e ex-diretor da área externa do Banco Central.

"É muito mais que simbólico", afirmou Paulo Leme, diretor de Mercados Emergentes do Goldman Sachs em Miami. Leme observa que o efeito da política monetária é cumulativo e a decisão de ontem tem de ser vista "em um horizonte de vários cortes". Assim, ele continua, mesmo que o custo do capital não mude no curto prazo, "projetos a serem implantados em seis a doze meses tornam-se viáveis quando se trabalha com uma expectativa de diversos cortes".

O economista acrescenta que a decisão confirma a eficácia da política monetária em manter a inflação baixa, o que cria "um cenário positivo para a planificação das empresas e para o salário dos trabalhadores".

Leme nota ainda que o corte da Selic afeta a "curva futura dos juros". Com isso, ele quer dizer que, na expectativa de que a Selic será gradualmente reduzida ao longo dos próximos meses, o juro para diferentes prazos - três e seis meses, um ano, etc - tende a ser mais baixa. Com isso, os juros que os empresários pagam hoje para capital de giro, por exemplo, embora ainda altíssimos, estão mais baixos que se a expectativa fosse de que a Selic, que é uma taxa de um dia, de curtíssimo prazo, não caísse.

Na verdade, havia no mercado financeiro uma esmagadora expectativa de que o Comitê de Política Monetária (Copom) cortasse a Selic efetivamente em 0,25 ponto porcentual na reunião terminada ontem. Dessa forma, essa redução já estava refletida nas taxas de juros de prazos mais longos. Ainda assim, observa Leme, "uma coisa é trabalhar com a incerteza e outra, com a certeza".

Luiz Fernando Figueiredo, principal executivo da Mauá, empresa de gestão de recursos, e ex-diretor de Política Monetária do BC, lembra que a importância da decisão do BC também deve ser avaliada considerando-se qual seria o cenário se, por exemplo, o Copom tivesse mantido a Selic em 19,75%. Nesse caso, ele diz, "a curva de juros subiria bastante e haveria um efeito contracionista (de desaceleração) na atividade econômica". Isso quer dizer que, como os juros de prazos mais longos traziam embutido o pressuposto de que a Selic continuaria a cair, caso fosse mantida, eles voltariam a subir.

Alexandre Pavan Póvoa, diretor do Modal Asset Management, empresa de gestão de recursos sediada no Rio, diz que o corte da Selic "certamente tem um efeito psicológico importante". Ele observa que nos últimos três meses, em razão da crise política, houve piora na confiança de consumidores e empresários, o que inclusive deve ter levado ao engavetamento de projetos. Nesse contexto, o início de um ciclo de redução da Selic pode ser um fator a contrabalançar o pessimismo.

"Esse corte começa a garantir que o Brasil vai entrar em 2006 crescendo no mesmo ritmo de 2004 e 2005, isto é, algo em torno de 4% - é menos do que queremos, mas é algo que o País não consegue ter por três anos consecutivos há muito tempo", diz Póvoa.

Para o diretor da Modal, o corte da Selic "não vai ter efeito imediato no bolso", mas pode ajudar na retomada dos investimentos. Ele nota que o investimento já está crescendo, o que pode estar ligado às perspectivas de crescimento, que ficam reforçadas com um ciclo de baixa da Selic.

Póvoa acha que o Banco Central optou por 0,25 ponto porcentual de corte, e não por 0,50, porque está numa situação segura, já que até o momento não há sinais de que os altíssimos juros reais tenham tido um impacto muito forte de desacelerar a atividade econômica.