Título: 2005 será um dos piores anos para o setor
Autor: Renata Veríssimo
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/09/2005, Economia & Negócios, p. B1

A indústria da construção deve fechar este ano com um dos piores desempenhos de sua história na área de investimentos públicos. Até agosto, apenas 29,98% do orçamento do governo federal para as áreas de saneamento, obras rodoviárias e habitação social haviam sido contratados e 17,88% desembolsados, segundo dados da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), até o mês de agosto. Em saneamento, houve a contratação de R$ 3,44 bilhões, ainda referente ao orçamento de 2003/2004. Mas o desembolso não superou os R$ 387 milhões, de acordo com o trabalho. Para completar o quadro negativo, o Sindicato Nacional da Indústria da Construção Pesada (Sinicon) calcula que o saldo devedor do governo com as empresas do setor já soma cerca de R$ 500 milhões. 'Se continuar nesse ritmo, até o fim do ano esse valor baterá a casa de R$ 1 bilhão', afirma o presidente da entidade, Luiz Fernando Santos Reis. 'Esse deve ser o pior ano para o setor.

' Segundo ele, as licitações das grandes obras estão quase todas paradas. Entre elas, cita o executivo, está a BR-101 e a concessão dos oito lotes de estradas federais prevista inicialmente para este ano. Esse programa está sendo analisado pelo Tribunal de Contas da União (TCU), que considerou o valor dos pedágios elevado. A perspectiva do Ministério dos Transportes e da Casa Civil é conseguir liberar os lotes das rodovias federais ainda este ano.

Os representantes da CBIC também estão preocupados com a situação e tentam trabalhar com a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, para tentar liberar projetos de obras públicas. Em material entregue à ministra, a entidade alerta que a indústria da construção é responsável por mais de 65% dos investimentos feitos no País.

AJUSTES

O documento sugere medidas que permitam a conclusão de projetos nas áreas de transporte, saneamento, habitação e mercado imobiliário. As propostas têm o objetivo de criar ações imediatas a serem financiadas com recursos já disponíveis, mas pendentes de decisões gerenciais ou de ajustes nas políticas setoriais.

O presidente da Associação Paulista de Empresários de Obras Públicas (Apeop) e vicepresidente da CBIC, Arlindo Moura, afirma que discutir a necessidade de mais dinheiro para a infra-estrutura não adianta se os parcos recursos previstos no orçamento não são gastos. 'É preciso uma gestão mais eficiente. Até agosto, o Estado não havia gasto metade do orçamento previsto para o ano.' Com as propostas apresentadas ao governo, a indústria da construção acredita que será possível melhorar a situação do setor. Segundo Reis, do Sinicon, hoje a maior parte das contratações das empresas está na área de mineração e siderurgia.

Outro bom negócio tem sido o mercado externo. Na Odebrecht, por exemplo, 80% do faturamento da empresa no ano passado veio do exterior.