Título: Incertezas evitam que agências melhorem classificação do País
Autor: Jamil Chade
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/09/2005, Economia & Negócios, p. B3

Autoridades monetárias alertam que o rating do Brasil nas agências de classificação de risco já poderia ter sido elevado se não fosse a crise política do País. Desde ontem, representantes de bancos centrais de todo o mundo se reúnem na Basiléia para falar das perspectivas internacionais e há quem admita que querem saber como uma crise política prolongada no Brasil poderá afetar a confiança dos consumidores no País. O encontro é realizado na sede do Banco de Compensações Internacionais (BIS) e o Brasil é representado por Henrique Meirelles, presidente do BC. 'Certamente a questão sobre a situação brasileira será levantada, principalmente quanto à relação entre a crise e a confiança dos consumidores', afirma Phillip Hildebrand, um dos diretores do Banco Nacional da Suíça. Segundo ele, não se trata de se envolver na crise política brasileira. 'A questão da crise é um assunto doméstico brasileiro. O que interessa é saber do Brasil como o BC acredita que essa situação gerará um impacto na economia', afirmou Hildebrand.

Ele ainda conta que, nas últimas semanas, debateu a situação brasileira com o ex-presidente do BC Armínio Fraga. Pelas agências Standard & Poors e Fitsch, o Brasil é classificado como risco BB-. Na avaliação das autoridades, esse rating poderia subir para BB diante dos fundamentos considerados como satisfatórios da economia brasileira. A turbulência política, porém, estaria atrasando uma revisão. Duas posições acima da que se encontra o Brasil estão as economias consideradas como Investment Grade, onde estão os países mais estáveis.

Hans Tietmeier, ex-presidente do BC alemão, reconhece que o tema da crise política no Brasil está 'na mente das pessoas', mas evita fazer qualquer comentário sobre o assunto. Esse é, de fato, um dos comportamentos mais comuns entre os presidentes de BCs de outros países que, embora reconheçam o tema, tentam não entrar em um debate sobre a corrupção. 'Jamais responderia questões sobre o que penso sobre isso', afirmou o presidente do Banco da Espanha e do BIS, Jaime Caruana.

Um representante do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) também se recusou a avaliar a situação brasileira. Para um expresidente de um BC europeu, a solução para manter a economia diante de uma crise é manter as políticas macroeconômicas adotada pelo governo.

Mas a crise no Brasil não é o único escândalo que está pairando sobre as reuniões na Basiléia. Antonio Fazio, presidente do BC italiano, foi acusado de ter favorecido um grupo na compra de um banco italiano. A imprensa de seu país chegou a alugar um jato para ir até a Basiléia e acompanhar cada passo de Fazio, já que o Banco Central Europeu já disse ter pedido explicações ao BC italiano sobre a transação. Fazio caminha pelas redondezas do BIS sem sequer olhar para a imprensa que o segue.