Título: ´Economia está imune à crise´, diz Meirelles
Autor: Jamil Chade
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/09/2005, Economia & Negócios, p. B3

A economia brasileira tem fôlego para agüentar uma crise política prolongada se as diretrizes econômicas do País forem mantida, garantiu o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, que hoje está na Basiléia para uma reunião com os principais BC do mundo na sede do Banco de Compensações Internacionais (BIS). Em plena crise interna, sua mensagem ao xerifes das finanças internacionais será o de dar garantias de que, mesmo com a 'incerteza doméstica e externa', a economia do País estaria sólida e, acima de tudo, as decisões não estariam sendo tomadas com base em pressões políticas. 'O Brasil passa, como o resto do mundo, por um período de incerteza trazida pelo comportamento dos preços do petróleo. O Brasil, ao mesmo tempo, enfrenta uma crise política interna, mas ainda assim apresenta indicadores da economia extremamente positivos', disse Meirelles a jornalistas. 'A mensagem que vou dar é que a economia está sólida, diminuiu sua vulnerabilidade e estamos comprometidos com a implementação de políticas para manter um crescimento equilibrado.' Mas o presidente do BC do Japão, Toshihiko Fukui, já alertou que 'instabilidades políticas criam turbulências para o desenvolvimento econômico de um país'.

Para Meirelles, o cenário de incertezas exige que o Brasil mantenha sua política econômica se quiser ter fôlego para agüentar uma eventual prolongação da crise política. Essa política consistiria em três compromissos que o presidente do BC tentará garantir hoje à comunidade internacional: austeridade fiscal, meta de inflação e câmbio flutuante. 'Vemos uma trajetória de queda na relação entre dívida pública e o PIB que está ocorrendo independente de questões políticas.' Meirelles também garante que o compromisso do País com o câmbio flutuante está isento de pressões políticas ou de grupos.

'O exemplo disso é o funcionamento do câmbio de acordo com as forças de mercado, não nos deixando levar por finalidades outras como proteção de interesses seja do governo seja dos setores privados', afirmou o presidente do BC, que ainda aponta que a recomposição das reservas está ocorrendo com sucesso. Segundo ele, seriam esses compromissos que estariam garantindo um 'crescimento de forma sustentada desde o terceiro trimestre de 2003, com geração de número recorde de empregos e exportações acima das expectativas dos analistas'.

Para o presidente do BC, as taxas de crescimento das exportações ainda estão permitindo aumentar as importações sem afetar o saldo da balança comercial. 'Isso permite que empresas brasileiras possam importar máquinas e se reequipar visando ao aumento da capacidade produtiva do País. Ele se recusou a comentar, porém, os mais recentes números que mostram uma queda da produtividade industrial do Brasil. Às vésperas da reunião do Copom, Meirelles também evita qualquer comentário sobre o crescimento da economia, taxa de juros ou inflação. Quanto ao preço do petróleo, Meirelles alerta que alguns países já dão sinais de que estão sentindo os efeitos negativos da alta. O tema deverá estar no centro dos debates de hoje no BIS, principalmente diante dos efeitos do furacão nos Estados Unidos que criou uma incerteza ainda maior sobre o abastecimento de gasolina e combustíveis.

Ontem, na Basiléia, houve uma reunião para debater a repercussão da nova realidade nos países emergentes. Segundo alguns participantes, a situação do Brasil é mais confortável que de outros emergentes e Brasília tentou passar a impressão aos demais governos que estaria conseguindo controlar esse impacto negativo do petróleo. Mas para autoridades monetárias do México, a pressão inflacionária poderá ser um risco no Brasil. O País foi representado pelo diretor de política monetária do BC, Rodrigo Azevedo.

Já países como Índia e Indonésia vivem situações mais críticas com déficits em conta corrente que prometem piorar com uma prolongada alta do petróleo.