Título: Israel devolve Faixa de Gaza com sinagogas
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Fonte: O Estado de São Paulo, 12/09/2005, Internacional, p. A12

As tropas israelenses realizaram ontem uma cerimônia simbólica em Neve Dekalim, um dos 21 assentamentos judaicos esvaziados na Faixa de Gaza, e arriaram sua bandeira nacional, preparando-se para a retirada militar total e a entrega do território para os palestinos hoje, após 38 anos de ocupação. O Exército foi forçado a cancelar uma cerimônia oficial de entrega, prevista para ontem, porque os palestinos avisaram que não compareceriam.

Triunfantes policiais palestinos, acompanhados por uma multidão que gritava e agitava bandeirinhas, assumiram hoje de madrugada o controle de vários assentamentos na Faixa de Gaza, enquanto os últimos 5 mil soldados israelenses partiam.

Mas a retirada foi ofuscada pela polêmica em torno da resolução de última hora de Israel de não demolir as 19 sinagogas na Faixa de Gaza, deixando a decisão para os palestinos. Jovens palestinos quebraram as janelas de uma sinagoga no antigo assentamento de Morag e atearam fogo nela, disseram testemunhas. Policiais palestinos tentaram impedir a destruição, mas eram em menor número. Em outra sinagoga, homens armados subiram no teto do prédio e agitando bandeiras de grupos militantes, entre eles o Hamas, gritavam "Deus é Grande". O presidente palestino, Mahmud Abbas, afirmou que a retirada israelense de Gaza era um dia de alegria para os palestinos.

Ontem houve alguns incidentes. Quatro palestinos, incluindo um menino de 1 2 anos, foram feridos por disparos do Exército israelense contra uma multidão que se aproximara muito do abandonado assentamento de Gush Katif. O comandante israelense em Gaza, general Aviv Kochavi, advertiu contra choques de última hora, pedindo aos soldados que não perdessem a calma.

Apesar de saudar a retirada, a AP teme que o primeiro-ministro de Israel, Ariel Sharon, esteja trocando a Faixa de Gaza, lar de 1,4 milhão de palestinos, por um controle permanente de áreas mais amplas na Cisjordânia ocupada, onde 245 mil colonos judeus vivem cercados por 2,4 milhões de árabes.Sharon reiterou que Israel continuará construindo assentamentos na Cisjordânia .