Título: Severino apresenta laudo contra empresário e diz que fica no cargo
Autor: Cida Fontes
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/09/2005, Nacional, p. A4

O presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), decidiu ontem comprar uma briga política com os líderes partidários e anunciou que não deixará a presidência da Câmara. Ignorando a pressão dos partidos políticos, Severino diz que cumprirá seu mandato até o fim e que é falso o documento apresentado pelo empresário Sebastião Buani, que aponta a suposta cobrança de propina de sua parte para renovar o contrato de funcionamento de um dos restaurantes da Câmara. Em entrevista coletiva, Severino classificou jornalistas que cobravam explicações sobre as denúncias como adversários da oposição. Atacou também violentamente adversários políticos, como o deputado Fernando Gabeira (PV-RJ), o primeiro a pedir seu afastamento. "Eu não faço este negócio de tóxicos", disse. Sua nora Olga pôs as mãos na cabeça desesperada. "Ele não consegue segurar a língua", disse com a cabeça baixa. Severino emendou: "Eu não ando com maconha nem com tóxico", disse.

Severino surpreendeu até mesmo seus assessores ao apresentar um laudo pericial, feito por um perito pernambucano, que atestaria a falsidade do documento apresentado por Buani. No dia anterior, seu advogado, José Eduardo Alckmin, dissera que não cabia à defesa fazer laudo, mas sim à Polícia Federal. Pior: o próprio perito admitiu em seu parecer que fez o laudo baseado apenas numa cópia do documento publicado na revista Veja.

"Eu não assinei e não existe esse documento. Ele é fraudulento. Trata-se de um documento montado eletronicamente. Trata-se de uma falsificação eletrônica", disse. Em relação ao cheque que Sebastião Buani disse que ele teria recebido, o deputado bradou: "Antes já se falou de pagamento de cartão de crédito, de entrega de vários cheques. Mentiras! Mentiras! Mentiras."

Indiferente à atitude da oposição, que promete abrir guerra hoje em plenário, não aceitando votar nada sobre seu comando, Severino avisou que planeja enfrentar a todos. "Resistirei. Como presidente da Câmara não posso me curvar à pressão dos poderosos. Estejam eles onde estiver", afirmou, dando socos no ar com o punho direito.

Severino debochou da promessa da oposição. "Irei presidir todas as sessões e esses líderes que continuem fazendo o conto de carochinha. Eu sou o presidente da Câmara eleito por 300 votos, uma vitória incontestável que nunca aconteceu nessa Casa. Portanto, eles não podem tripudiar sobre aqueles 300 votos. Eu exercerei o meu mandato em toda a sua plenitude", disse.

Severino ainda tentou comprometer o Palácio do Planalto a seu favor, afirmando ter apoio do governo e da base aliada. "Mas é claro que eu tenho o apoio do governo", garantiu o deputado, que conversou pela manhã com o ministro das Relações Institucionais, Jaques Wagner, sobre a sua estratégia de defesa. "Se o governo defende a seriedade tem de ficar do meu lado."

Severino disse que não tentará sensibilizar o presidente Lula. No entanto, espera que ele faça o que achar conveniente e o trate com respeito. "O governo tem certeza absoluta de que eu não estou dentro deste lameado que procuraram lançar sobre o meu nome", garantiu. "Eu não tenho medo de ninguém", ameaçou.

Severino disse que não abdicará das prerrogativas do cargo e que presidirá a sessão marcada para quarta-feira para votar a cassação do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ). Assegurou que não abrirá mão de presidir também o julgamento dos 18 parlamentares acusados de receber mensalão pelas CPIs dos Correios e Mensalão. Para ele, os líderes não vão conseguir impedir que ele cumpra plenamente a prerrogativa de presidir as sessões e, quanto à estratégia de obstrução afirmou ser um problema dos líderes. Mas advertiu: "Se os líderes querem ter uma posição política, eles façam isso. Mas eles precisam se lembrar que amanhã poderão cair nesta mesma cilada."

Severino ainda teve tempo para cometer mais um erro histórico ao tentar se defender. Disse que era vítima de preconceito por ser nordestino. "Sei que o preconceito é meu maior inimigo. Por isso, não me surpreendem manifestações histéricas de uma minoria que não admite que um nordestino simples possa estar à frente de uma das Casas do Poder Legislativo." Foi um equívoco. Tanto a Câmara quanto o Senado já estiveram sob comando de nordestinos por várias vezes e atualmente o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) preside o Senado.