Título: Perícia foi feita sem documento original
Autor: Diego Escosteguy e Cida Fontes
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/09/2005, Nacional, p. A5

A perícia apresentada pelo presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), para desacreditar o empresário Sebastião Buani tem 12 páginas e poucos argumentos. Ela é assinada pelo perito Adamastor Nunes de Oliveira, conterrâneo de Severino, e foi elaborada em dois dias. O perito afirma que o documento assinado supostamente pelo deputado é "fraudulento", mas, poucas linhas depois, admite precisar do original para chegar a essa conclusão. O documento em questão é datado de 4 de abril de 2002 e foi assinado supostamente por Severino. Nele, o deputado prorroga até janeiro de 2005 o contrato do restaurante de Buani com a Câmara. A Polícia Federal também prepara uma perícia sobre o documento.

Apresentado ontem como única defesa de Severino às denúncias, o laudo chegou em Brasília no sábado à noite. Com base nele, o presidente da Câmara afirmou ontem, repetidas vezes, que o documento é "uma fraude". Ainda assim, não descartou a hipótese de ter assinado "sem saber". "Confio nos meus auxiliares", garantiu.

O perito diz no laudo que utilizou como parâmetro de análise uma cópia do documento disponível no site da Veja - segundo ele mesmo, de baixa resolução. Oliveira gasta quatro das 12 páginas para dizer que precisaria do original para uma análise segura. "Alguns renomados e respeitados autores que atuam no campo da documentoscopia são contrários aos exames procedidos em documentos xerocopiados", diz.

Para comparar o documento, Oliveira usou atos assinados por Severino ao longo dos últimos anos. O perito afirma que a assinatura, que teria sido feita em 2002, aproxima-se mais das rubricas atuais do deputado. Segundo os advogados de Severino, a assinatura dele mudou depois de uma cirurgia no coração, há dois anos. Contudo, o perito não detalhou diferenças técnicas entre as assinaturas.

Mesmo assim, ele afirma nas conclusões do laudo que as assinaturas "divergem sobremaneira". "O documento apresentado, pelas características apresentadas e analisadas, possuem (sic) fortes indicativos de terem sido produzido (sic) por meio fraudulento, carecendo de ser analisado no seu original para se obter resultado conclusivo quanto a sua autoria, autenticidade e demais questionamentos", escreve o perito.

Entre as outras conclusões de Oliveira, está a de que o brasão da República "apresenta aspecto manchado, sem nitidez", mas não diz se isso não se deve ao fato do documento ter sido retirado da internet. No final do laudo, depois de ressaltar várias vezes que precisaria do original para fazer considerações, o perito afirma, em letra maiúscula, que o documento é uma falsificação, montada eletronicamente. Entretanto, por quatro parágrafos, Oliveira disserta sobre assuntos irrelevantes ao processo, como as "máquinas maravilhosas do avanço tecnológico". "Comumente (sic) as fábricas de sonhos, mais evidenciada (sic) o cinema e na grande mídia, que tão bem sabem se utilizarem (sic) desses recursos, onde com seus brilhantes profissionais dão forma ao impossível a até ao inexplicável aos olhos humanos", escreve.