Título: Deputado aponta desvio ético do PT
Autor: Diego Escosteguy
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/09/2005, Nacional, p. A6

A oposição reagiu com indignação às denúncias publicadas ontem pelo Estado sobre os pagamentos de passagens aéreas feitas pelo PT para familiares do presidente Lula e do ministro da Fazenda, Antônio Palocci. Os gastos foram realizados com o Fundo Partidário, que é abastecido com recursos públicos. Parlamentares da oposição cobraram explicações do presidente, de Palocci e do PT, que ainda não se manifestaram sobre o caso. Na reportagem, o Estado revelou que o PT pagou viagens de filhos, noras, um genro e uma neta de Lula, além de passagens e estadias para a mulher e a filha de Palocci, na virada de 2002 para 2003. Os pagamentos constam de notas fiscais, recibos e cheques anexados à prestação de contas do PT ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), no ano de 2003.

Os ministros do tribunal ainda não aprovaram essas contas, mas especialistas em legislação eleitoral afirmaram que os gastos são irregulares. A CPI já recebeu cópia dos documentos.

Para o deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR), sub-relator da CPI dos Correios, os fatos são graves e merecem investigação aprofundada. "Essas denúncias somam mais um desvio ético ao PT, que confunde o público com o privado", disse. "É o mesmo caso da Land Rover do Silvio Pereira (ex-secretário-geral do PT, que ganhou o carro da empreiteira GDK)", comparou Fruet.

Ele acredita que a denúncia serve como alerta. "Enquanto tivermos um sistema que não pune os culpados e adiarmos reformas nas leis eleitorais, ficaremos continuamente indignados, porque fatos assim vão acontecer sempre"afirmou Fruet.

O senador Álvaro Dias (PSDB-PR), que requisitou a prestação de contas, também foi duro com o PT e o presidente Lula. "É simples: dinheiro do Fundo Partidário serve para custear o partido, e não para fazer turismo de familiares ou providenciar empréstimos para dirigentes", disse, lembrando o caso do suposto empréstimo de R$ 29 mil contraído por Lula junto ao PT, financiado com recursos do fundo.

Para o senador, os pagamentos são "ilegais" e "estranhos". "É uma atitude condenável, de quem deveria ser o primeiro a dar o exemplo. Mesmo que devolvam os recursos, permanece o ilícito", afirmou Dias.

Para o ex-ministro do TSE Walter Costa Porto, o relator do caso, ministro Gilmar Mendes, tem duas opções. "Ou ele considera os pagamentos um fato menor e manda o partido pagar, ou ele rejeita as contas por completo", explicou. "Eu acho os gastos irregulares. Não tanto pelo valor, mas pela natureza dos pagamentos. Certamente é grave", comentou

Jorge Maurique, presidente da Associação dos Juízes Federais (Ajufe), não vê complicações no caso. "É um desvio claro de finalidade. Qual o interesse partidário em pagar viagens para familiares de Lula e do Palocci? Não vejo."