Título: Porta da PF vira ponto de encontro para malufistas
Autor: Marcos Rogério Lopes e Rodrigo Pereira
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/09/2005, Nacional, p. A8

A monotonia dos fins de semana na Superintendência da Polícia Federal de São Paulo foi quebrada nos dois últimos dias com a prisão preventiva do ex-prefeito de São Paulo Paulo Maluf e de seu filho Flávio. A prisão fez com que amigos, admiradores, empregados, correligionários e advogados tentassem visitar ou levar comida, roupas e palavras de apoio aos Maluf na PF. Ex-presidente do PP, assessor e amigo da família de Maluf, Jesse Ribeiro foi dos poucos que entraram ontem. Disse ter conversado com Paulo Maluf e declarou que o ex-prefeito estava "abatido, mas se alimentando bem e tranqüilo". Ele relatou que pai e filho estão em quartos separados, idênticos, simples e sem grades, no terceiro andar do prédio. As "celas" têm uma cama, uma poltrona e uma cadeira. Maluf pode usar um telefone, mas tem horários definidos para isso. Indagado se a prisão decretaria o fim da carreira política do pepebista, Ribeiro foi enfático: "De jeito nenhum. Tenho certeza que em 2006 ele vai sair candidato."

A mulher de Flávio Maluf, Jaqueline, levou uma grande mala ao marido no final da tarde de ontem. Ela e Ribeiro disseram que os Maluf estão "muito confiantes em sair (da prisão)", sem especificar prazos. "Acho que amanhã (hoje) já entram com o pedido (de habeas-corpus)", adiantou Ribeiro.

Pela manhã, os advogados José Roberto Leal de Carvalho e Ricardo Tosto se reuniram por quase duas horas com Paulo e Flávio Maluf. Segundo Leal, o pedido de habeas-corpus só será elaborado quando ele tiver acesso ao "teor da decisão" da juíza Silvia Maria Rocha, da 2ª Vara Federal Criminal. "Estarei dando um tiro aleatoriamente, sem ver o alvo", justificou o criminalista.

Ontem, os visitantes foram impedidos de entrar na carceragem da PF que chamaram mais atenção. Apresentando-se como suplente do PP em São Paulo e "militante do doutor Paulo há 35 anos", Miriam da Conceição foi levar chá e suco de manga para o político. Emocionada, repetia que a prisão era uma injustiça. Ao fim da tarde, a jornalista Sônia Abrão também apareceu. Levou um bilhete para Maluf, de quem disse ser amiga. "Queria demonstrar solidariedade", declarou.

Empregados dos Maluf chegavam, freqüentemente, com roupas e comidas. Insistente, Lázaro Gonçalves, de 70 anos - há 37 trabalhando para Maluf -, convenceu um agente a entregar um lanche à noite. "Foi a dona Sylvia (mulher de Maluf) que preparou."

Mas os episódios mais folclóricos foram protagonizados por partidários de Maluf na tarde de sábado. O deputado estadual Antônio Salim Curiati levou ao ex-prefeito sacolas com quibes e quindins. Curiati lamentou a prisão do colega e disse que "as coisas seriam diferentes" se estivessem na ditadura.

Já o vereador paulistano Agnaldo Timóteo fez seu pequeno estardalhaço. Gritou dos portões para forçar sua entrada e saiu em defesa do ex-prefeito nas entrevistas. Julgou ser "uma falta de respeito prender um homem de 74 anos" e afirmou que o doleiro Birigüi foi o autor da "chantagem" que culminou com a prisão de Maluf.

DOCUMENTOS

Outra que tentou forçar a entrada foi a diretora de uma empresa de Flávio Maluf, Simone Carreira. Ela insistiu em levar documentos. Diante da negativa, reclamou ao agente que "as empresas precisam andar".