Título: Lula quer vender etanol para América Central
Autor: Leonencio Nossa
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/09/2005, Nacional, p. A10

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva desembarca na tarde de hoje na Guatemala para encontros com empresários e chefes de Estado de oito países da América Central e Caribe. Na visita de dois dias, ele apresenta o Programa de Incentivo a Investimentos Brasileiros na região (Pibac), participa de um fórum de combate à pobreza promovido pelas Nações Unidas e propõe um acordo de produção de etanol. A viagem de Lula não desperta o interesse da imprensa guatemalteca. Os principais diários da capital acompanham com mais atenção os preparativos da visita do presidente de Taiwan, Chen Shui-Bian, que deverá estar no país nos dias 22 e 23 deste mês. Os países da América Central querem fechar acordos comerciais com os asiáticos. A integração da América Latina é de interesse secundário no Caribe.

O "Gigante Sul-Americano", como o Brasil é lembrado, só desperta mesmo a atenção no futebol. Os jornais de ontem na Guatemala estampam fotos da derrota do Real Madrid no campeonato espanhol. Os brasileiros Ronaldo e Robinho participaram de um "baile", segundo os diários. Já Lula recebe uma pequena citação em matéria sobre a visita de Shui-Bian no Prensa Libre, por exemplo.

Com uma população de 12 milhões de habitantes, a Guatemala não apresenta índices sociais e econômicos diferentes da maioria dos países latino-americanos. De dez guatemaltecos, quatro estão abaixo da linha de pobreza, segundo o Índice de Desenvolvimento Humano das Nações Unidas, divulgado no início deste ano.

Cerca de 40% das pessoas sobrevivem com US$ 2 por dia, em média. A maioria dos pobres é descendente de índios. A miséria atinge quase 80% da população indígena.

Neste fim de semana, militantes de movimentos sociais levaram para o centro da capital, onde ocorre o encontro sobre pobreza, cartazes e faixas de protesto contra o presidente da Guatemala, Oscar Berger, anfitrião de Lula.

ALCA

O diretor do Departamento de Comércio do Itamaraty, Mário Vilalva, disse em entrevista, na última quinta-feira, que o objetivo do Pibac - o programa de incentivo a investimentos de empresas brasileiras na América Central e no Caribe - é compensar as inexpressivas cifras de importação de produtos desta região.

No ano passado, o Brasil exportou cerca de US$ 1,45 bilhão e importou apenas US$ 100 milhões. De janeiro a junho deste ano, a exportação brasileira para a área cresceu 36% em relação ao mesmo período do ano passado.

O governo brasileiro avalia, ainda, que a construção de fábricas brasileiras em países como Belize, Costa Rica, El Salvador, Guatemala, Honduras, Nicarágua, Panamá e República Dominicana pode abrir uma ponte para o mercado norte-americano. As negociações para a formação da Alca ( Área de Livre Comércio das Américas) sofreram um refluxo nos últimos anos. "Temos de buscar alternativas já que essa negociação está difícil", afirmou Vilalva.

O governo cita a fabricante de cerveja Ambev, que investe na Guatemala, como exemplo de empresa que já exporta da América Central para os Estados Unidos.

LUVA: Prevista há meses, a viagem dele à Guatemala e aos EUA caiu como luva, na avaliação de assessores do Palácio do Planalto. Ao se reunir com o presidente guatemalteco, Óscar Berger, e visitar a sede das Nações Unidas, Lula não precisará de malabarismos para demonstrar neutralidade quando o presidente da Câmara e aliado, Severino Cavalcanti (PP-PE), tenta se manter no cargo. Também terá mais facilidade de se esquivar da denúncia de uso do fundo partidário do PT em passagens aéreas de parentes entre 2002 e 2003.

Por coincidência, Lula estava no Caribe em fevereiro, na Guiana, quando o candidato do governo Luiz Greenhalgh (PT-SP) foi derrotado por Severino. Recebeu críticas internas no PT e na base aliada por estar fora.